Charles “Chuck” Feeney é um bilionário que sempre sonhou não em acumular mais e mais riqueza – e sim em doar todo o seu dinheiro para fins beneficentes.
Ele conseguiu.
O empresário americano, de 89 anos, chegou há poucos dias ao seu objetivo de doar quase US$ 8 bilhões (cerca de R$ 45 bilhões) em ações de caridade pelo mundo.
Dinheiro que ele nunca usou para viver um estilo de vida compatível com sua renda. Ele não tem casa ou carro e é famoso por usar um relógio que custou apenas US$ 15 (R$ 84).
“Tive uma ideia que nunca me saiu da minha cabeça: a de que você deve usar sua riqueza para ajudar as pessoas”, já afirmou o filantropo.
E, por muito tempo, ele doou dinheiro anonimamente.
Quando o jornalista Gerardo Lissardy, da BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, perguntou ao bilionário em 2017 por que fazia isso em segredo, ele respondeu: “Para não ter que explicar às pessoas o motivo”.
De acordo com Conor O’Clery, que escreveu uma biografia de Feeney, a inspiração veio do ensaioRiqueza, também conhecido como O Evangelho da Riqueza, do famoso filantropo americano Andrew Carnegie.
Frases como “morrer rico é morrer em desgraça” deixaram uma marca em Feeney.
Ele viajou o mundo em segredo, buscando projetos em que acreditasse, e por isso foi apelidado de “James Bond” da filantropia.
O’Clery diz que o bilionário está hoje “muito feliz” por ter concluído sua missão após quase 40 anos, o que virou motivo de celebração para o empresário e a esposa Helga, com quem mora em um apartamento de dois quartos na cidade de San Francisco.
Breve biografia

Foto: Getty Images / BBC News Brasil
Charles F. Feeney nasceu em 1931 em Elizabeth, Nova Jersey, justamente na época da Grande Depressão dos Estados Unidos.
Sua mãe trabalhava como enfermeira em um hospital e seu pai era corretor de seguros.
Desde muito novo ele mostrou habilidade para empreender — aos 10 anos, vendia cartões de Natal de porta em porta.
Quando adolescente, Feeney se alistou no Exército e lutou na Guerra da Coreia.
Ele aproveitou um programa do governo americano para veteranos e se tornou o primeiro membro de sua família a ir para a faculdade.
Depois de se formar na Universidade Cornell, em Nova York, ele abriu seu próprio negócio vendendo produtos para soldados americanos em missão na Europa.
Esse modelo de negócios evoluiu para a Duty Free Shoppers (DFS), a empresa de vendas isentas de impostos para viajantes, com lojas em aeroportos e portos, que ele cofundou com Robert Miller em 1960.
A DFS agora emprega mais de 9 mil pessoas e se descreve como “a varejista de luxo líder mundial no ramo do turismo”, com bilhões em vendas.
“Com a riqueza, vem a responsabilidade”, disse em algumas ocasiões.
“As pessoas devem se definir ou sentir a responsabilidade de usar parte de seus recursos para melhorar a vida de seus pares, ou então criarão problemas insolúveis para as gerações futuras.”
‘James Bond’ da filantropia

Foto: Noah Berger / BBC News Brasil
Em 1982, Chuck criou a Fundação Atlantic Philanthropies, uma organização internacional com a finalidade de distribuir sua fortuna para boas causas e projetos em todo o mundo.
Nos primeiros 15 anos, Feeney secretamente doou dinheiro, até que sua filantropia saiu do anonimato em 1997.
Desde a criação da Atlantic Philanthropies, já foram quase US$ 8 bilhões em doações.
Na América Latina, a fundação doou US$ 66 milhões (R$ 370 milhões) para organizações com projetos de saúde em Cuba.
“Alguns investimentos também financiaram trabalhos para ajudar a normalizar as relações entre Cuba e os Estados Unidos”, diz a fundação.
As verbas também financiaram projetos na Irlanda do Norte, Estados Unidos, Austrália, África do Sul e Vietnã.
A Atlantic Philanthropies anunciou que deixará de operar depois do último dia de 2020, já que a meta de Feeney foi alcançada.
A filosofia do empresário de “dar enquanto se vive” inspirou outros bilionários, incluindo o cofundador da Microsoft Bill Gates e o investidor Warren Buffett — ele no entanto não é tão conhecido quanto alguns de seus fãs bilionários, possivelmente por ter doado secretamente durante os primeiros 15 anos de sua missão.
* Com informações de Damien Edgar, da BBC News.

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