Opinião

Weintraub acertou em declaração sobre Proclamação da República

“O que estamos comemorando hoje?”, perguntou o ministro da Educação, Abraham Weintraub, na festa de 15 de novembro, dia da Proclamação da República. Grande pergunta. É de se admirar, na verdade, que nenhuma autoridade pública tenha perguntado isso nos últimos 130 anos.

Comemorar o quê?

O ministro achou ruim que o 15 de novembro festeje “uma infâmia” feita ao Imperador Pedro II – traído pelos oficiais do seu Exército, expulso do governo sem qualquer tipo de plebiscito ou manifestação popular que justificasse isso e banido para sempre do Brasil, sem jamais ter cometido crime algum. Infâmia? Põe infâmia nisso. Mas o pior de tudo é que a Proclamação da República foi um golpe militar do estilo sul-americano mais lamentável – o primeiro, aliás, desde a independência do Brasil.

É isso, e apenas isso: o Brasil comemora oficialmente, com hino e tudo, um golpe militar. Pior ainda, atribui glória, coragem e patriotismo a um episódio do qual as Forças Armadas não têm nada para se orgulhar – ao contrário, é um dos seus piores momentos. Não adianta nada falar em “abre as asas sobre nós”, “pálio de luz desdobrado”, “torpes labéus” e outras bobagens que vão daí para baixo. Foi golpe, sim, e hoje é apenas um feriado, embrulhado na preguiça das comemorações nacionais que fazem pouquíssimos brasileiros se sentirem bem, ou mais patriotas – na verdade, não sentem nada na maioria delas.

É contra a etiqueta corrente nas zonas civilizadas na nossa sociedade, como bem se sabe, falar alguma coisa boa em relação ao ministro Weintraub – por conta dessa declaração, aliás, pediram até sua renúncia ao cargo, nada menos que isso. Mas ele também é capaz de acertar, como a maioria dos seres humanos. Nessa aí acertou em cheio.

J.R. GUZZO

 

foto: marcelo camargo/Abr

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