“Felizmente uma criança do sexo feminino que foi noticiada também como falecida, por sucessivas reanimações cardíacas, ela permanece em vida. Isso é uma notícia muito boa diante de tanto caos e tanta tristeza, mas felizmente recebemos essa notícia e comunicamos com urgência a todos os segmentos da imprensa”, disse o militar.
O vigia de uma creche municipal em Janaúba, a 559 quilômetros de Belo Horizonte, no norte de Minas Gerais, ateou fogo em crianças e em si mesmo na manhã de ontem, quinta-feira, 5/10. Cinco alunos, todos com 4 anos, uma professora da unidade e o autor do crime morreram. Pelo menos 30 pessoas também ficaram feridas.
O incêndio no Centro Municipal de Educação Infantil Gente Inocente aconteceu quando cerca de 50 alunos e professores estavam no recreio. Segundo o Corpo de Bombeiros, o agressor, Damião Soares dos Santos, de 50 anos, jogou combustível sobre os alunos.
Uma menina e três meninos morreram logo após o ataque. Uma outra criança não resistiu aos ferimentos durante a transferência a um hospital da capital, segundo os bombeiros e a prefeitura. A PM chegou a informar que uma sexta criança ferida havia morrido, mas no início desta sexta-feira, 6, os bombeiros informaram que a menina foi reanimada.
A professora Heley Abreu, que ajudou a proteger crianças, teve mais de 90% do corpo queimado e morreu na noite desta quinta, segundo a Fundação Hospitalar de Janaúba.
Também foram identificados dois adultos e 21 crianças feridos, com idades entre 2 e 6 anos. Ao menos 15 vítimas foram transferidas a outras cidades – 11 para Montes Claros, maior da região, e quatro para a BH. Pelo quadro de saúde delicado dos pacientes, equipes de resgate tiveram dificuldades para levar feridos à capital. “Há casos em que temos de colocar o paciente em pulmão externo”, disse Marcelo Lopes Ribeiro, diretor técnico do Hospital João XXIII, referência em Minas no atendimento a queimados.
Segundo a prefeitura de Janaúba, desde 2008 Santos era vigia noturno da escola, que tem 82 alunos. Ele havia tirado férias de junho a agosto e quando voltou, em setembro, alegou problemas de saúde. Havia ido à escola nesta quinta para entregar o atestado médico à diretora. O vigia tinha problemas mentais, estava sob tratamento médico e já foi internado em um centro de atenção psicossocial.
A investigação da Polícia Civil aponta que ele teria premeditado o crime. Na casa do vigia foram achados galões com combustível. Segundo a polícia, Santos deve ter escolhido simbolicamente a data desta quinta, que marcou três anos da morte de seu pai. Ele também havia dito à família, na última terça, que “daria um presente a todos, se matando em breve”. A investigação também aponta que Santos seria obcecado por crianças.
Prefeito de Janaúba, Carlos Isaildon Mendes (PSDB) decretou sete dias de luto e classificou a tragédia como “imprevisível”. Vizinho do vigia, Mendes disse ao Estado que ele vivia sozinho e não apresentava sinais de que fosse capaz do crime. “Voltou a trabalhar na segunda, mas faltou na quarta. A diretora quis saber o porquê e ele ficou de mandar atestado.”
Mobilização. Viaturas, bombeiros, policiais militares e civis de ao menos cinco cidades foram acionados. O crime chocou Janaúba, de 66 mil habitantes, e municípios vizinhos, que se mobilizaram. Pelas redes sociais, moradores de Montes Claros ofereceram abrigo, banho e alimentação a parentes de vítimas. “Minha casa fica a 10 minutos da Santa Casa. Quando soubemos da tragédia, nos oferecemos para dar ajuda para quem vier acompanhar os filhos”, contou a cozinheira Edisa Rosa de Andrade, de 40 anos. Ela e a irmã, também voluntária, repassaram números de telefones para conhecidos da região.
Ainda nas redes sociais, a prefeitura de Janaúba pediu ajuda com itens básicos de atendimento, como luvas e jalecos e medicamentos, como morfina e dipirona injetável. Bombeiros também receberam donativos.
Um ônibus foi reservado para transportar doadores de sangue. O Estado ainda providenciou acomodação às famílias e instalou um posto de comando emergencial na cidade.
O governador Fernando Pimentel (PT) foi à cidade para acompanhar os trabalhos. Em viagem ao Pará, o presidente Michel Temer disse que, como pai, reconhece a “perda dolorosa”.
A Defensoria e o Ministério Público já estudam medidas cabíveis. “É claro que o dano varia de família para família, dos tipos de ferimentos e sequelas, mas buscaremos acordo para garantir a indenização”, disse Claudijane Gomes, coordenadora da Defensoria em Janaúba.