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Veraneio – Por André Aguiar

Os Nativos daqui de João Pessoa, sabem identificar com precisão o significado da palavra Veraneio, mas para os menos avisados é o período compreendido inicialmente entre os meses de dezembro a março. Sim, porque as férias escolares antigamente, se estendiam por três meses aproximadamente.

Essa tradição de buscar o litoral para passar as férias, justifica-se pelo fato de que aqui em particular a cidade de João Pessoa nasceu as margens do rio (centro) e correu para o mar (litoral).

O centro da cidade e adjacências era o lugar onde orbitavam a maior parte de sua população e era ali, onde desenvolviam suas principais atividades laborais, sem deslembrar, entretanto, das atividades rurais e de toda a população do interior do estado que também socorriam e socorrem para desfrutar nesse período, das águas cristalinas e mornas do lindo litoral paraibano.

Com 55 praias o litoral Paraibano tem extensão de 154 quilômetros, grande parte ainda pouco habitadas, favorecendo assim o descanso.

Tem-se notícia que ainda nos anos de 1960 famílias inteiras iam veranear na Praia de Tambaú e Cabo Branco, a minha mesmo foi uma dos que iam veranear por aquelas bandas. Hoje, como sabemos são praias principais da cidade.

Pois bem, vamos à história.

 A praia de Formosa e praia do Poço em Cabedelo, nos idos dos anos de 1950, eram bastante procuradas, de difícil acesso, optava-se pelo uso de trens para se chegar ao local e alguns quando possível, o automóvel.

Cidade portuária Cabedelo de há muito recebe em suas praias os veranistas da capital e do interior do estado que ali constituem como se fosse uma nova comunidade.

A praia de Camboinha passou a partir dos anos 1970 a ser também muito procurada, pois é ali que se localiza um lindo banco de areia cercada de arrecifes, chamada areia vermelha.

Nas suas noites, em minha geração, de 1980 ao final dos anos oitenta e nove, desfrutávamos durante à noite de festas conhecidas como “assustados”, que eram embaladas por músicas e luz negra, e aqueles globos rodando pendurados no centro do terraço. Dançávamos de rostinho colado e agarradinho, ou “soltos” mesmo, com a turma juntada em círculos, era o tempo de dancing days. Esses assustados eram realizados nas diversas casas dos veranistas, todos os dias tinha o “point” do encontro. O motivo era somente dançar e paquerar, andávamos descalços pelas ruas de terra, de bermudas e camisas leves de algodão.

Não podia faltar o vôlei ao final da tarde na casa dos Monteiros, ou a peladinha de futebol no campo dos Targinos, principalmente a turma de João Pessoa contra a turma de Campina, era pau na canela…

Em noites de lua cheia as serestas na areia vermelha eram o máximo, bem como as pescarias de rede de arrasto ou ainda pescaria de com luz e puçá, visando as agulhas, que na época existiam muitos cardumes, era uma festa…

Entretanto tinha um local especial que a juventude frequentava naquela época, era o Cat Club, lá na casa de Italmar e Luzia Monteiro. Ali era onde ficavam os barcos a vela da maioria dos jovens veranistas, eram optmist, lazer, windsurfe e ainda por óbvio como o nome do clube sugeria, muitos Hoby Cat 14 ou 16.

Lá era a casa dos barcos a vela, na qual em dias muito movimentados, eram belo contemplar de longe as velas coloridas ancoradas em torno de areia vermelha. Na época não existia bares nem vendedores ambulantes naquele local.

É bom frisar que o Cat Club era uma grande família, não havia pagamento de aluguel dos espaços para guardar os barcos, nem tão pouco o uso da água para lavá-los. E muitas vezes tinha ainda uma cervejinha, refrigerante, sucos e alguns petiscos e se brincar, até almoço grátis, a família Monteiro eram mestres na arte de servir. Saudades!

Não tínhamos jogos eletrônicos, a televisão com poucos canais, não nos atraia, bom mesmo era jogar dama, xadrez, baralho, war,  banco imobiliário e para uns poucos privilegiados um ping pong ou sinuca.

Mas o mais especial são as suas águas límpidas verdes azuladas cercadas de arrecifes, é o caribe brasileiro, ou como diz um amigo, melhor do que o Caribe.

Dos anos de 1971 aproximadamente até 1980, veraneei na praia do Bessa, explico, o Bessa a partir dos clube dos médicos até a divisa com a praia de intermares. Aquele trecho era dividido por dois rios que desembocavam na praia, no que chamamos de braço de mar ou maceió.

De frente para o mar aberto do Bessa, dormíamos de janelas abertas, muro baixo, quando chegamos, nem energia elétrica tínhamos e a água vinha de um poço, bombeado manualmente. A energia somente veio a chegar cerca de seis meses depois.

E como era gostoso ascender os lampiões e balançar nas redes de um terraço amplo e muito ventilado, com a família toda reunida, primo, tios, além de meus pais e irmãos, desfrutei de uma infância muito feliz.

A praia do Bessa era repleta de frondosos pés de cajú e muito araçá, ao acordar por volta das 5:30 / 6:00 horas íamos a uma vacaria para tomar leite direto do peito da vaca. Era o campo na praia.

Ao final da tarde o bom mesmo era pescar siri no maceió e contemplar a junção do rio com o mar, ou ainda assar castanha de caju, era uma delícia, comer roscas com café e leite ou suco, feitos por minha avó Lucemar.

De bicicleta explorei junto com meu irmão Alexandre, tudo por aquelas bandas da praia do Bessa, sem esquecer de infindáveis banhos de mar com minha prancha de isopor para “pegar jacaré”. Precisava usar camisa para não criar bolhas no peito, por conta do isopor…E claro, as peladinhas de futebol com travinhas nas marés baixas, junto com meus amigos veranistas como eu. Que tempos maravilhosos!

Hoje outras praias lindas são locais escolhidos pelos veranistas, como Coqueirinho, Tabatinga, Carapibús, Praia do Amor, Intermares, Ponta de Campina, Praia de Campina, Lucena, Fagundes e tantas outras, de norte a sul desse belíssimo litoral paraibano. Mantem-se mesmo com as dificuldades atuais esses hábitos, culturais até.

Ao final peço perdão aos meus leitores e amigos do Portal S1, pelo tema intimista aqui trazido nesse espaço, logo no início desse ano, em tempos tão difíceis, mas é que estou saudosista e veraneando, acho que é a maresia, fica a dica.

Por André Aguiar em 09 de janeiro de 2021.

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