Comer verduras e legumes colhidos na hora não é privilégio de quem mora no interior ou em casas e dispõe de grandes espaços.
É possível ter uma horta até no parapeito da janela, enfileirando vasinhos com ervas e temperos usando as técnicas de cultivo orgânico – que envolvem o uso responsável do solo, do ar, da água e de todos os recursos naturais, com impacto positivo direto na saúde, porque não se utilizam adubos químicos e agrotóxicos, hormônios, drogas veterinárias, antibióticos ou transgênicos no cultivo de hortaliças, ervas e frutas.
E o melhor: não é preciso ser um pequeno produtor para aproveitar os benefícios de uma alimentação orgânica no dia a dia. Para tanto, é preciso escolher as espécies certas, o local de plantio ou onde colocar os vasos, a iluminação e adubação adequadas, além da irrigação.
Confira abaixo como montar uma horta orgânica em casa:
Para ter uma horta em casa é preciso planejar. Há uma série de fatores que influenciam, desde o local de instalação – se será uma horta em vasos ou um canteiro – até o plantio. Vale fazer um lista de checagem para garantir sua produção orgânica em casa.
E mesmo que demore um pouco para ver os resultados – as plantas crescendo –, persista. Por utilizar produtos que não agridem o solo ou o ambiente, os alimentos cultivados de forma orgânica podem demorar a se desenvolver. Mas você terá frutas, verduras e legumes muito mais saudáveis!
Dicas importantes
• Escolha o meio onde a planta vai se desenvolver: solo, substratos preparados no local ou comprados;
• Defina como vai plantar: sementes, mudas de estacas, rebentos, bulbos, tubérculos e estolões;
• Use sempre água de boa qualidade para não contaminar as hortaliças e o solo;
• Sol: a planta precisa da luz solar para se desenvolver e produzir carboidratos (glicose, amido) através da fotossíntese;
• Ar: a planta inteira respira (inclusive as raízes);
• Nutrientes: se o solo for pobre em nutrientes, é preciso complementar com adubos;
• Mão-de-obra: a horta é uma atividade que exige cuidados diários, então tenha paciência e disciplina;
• Ferramentas: rastelo, pulverizador, carrinho de mão, regador ou mangueira de borracha, conjunto de ferramentas de jardim (com colheres de transplante e rastelinho), pás (curva, reta), forcado ou gadanho.
Fase 1 – Escolha do local
Prefira locais planos ou levemente inclinados, que facilitam o escoamento da água. Mesmo em um apartamento, os vasos ou floreiras devem receber luz solar direta por um período de 4 a 6 horas por dia. O solo deve ser, de preferência, areno-argiloso, ou seja, mais aerado, para o melhor desenvolvimento das raízes. Ao planejar um canteiro, a maior dimensão (comprimento) deve ser disposta no sentido norte-sul, para aproveitar melhor o movimento do sol.
O canteiro deve ficar 20 cm mais alto que o nível do chão, com uma média de 120 cm de largura, e o comprimento conforme o espaço que você tiver disponível, não há limite. Nos canteiros, planeje a distribuição dos plantios desenhando um mapa da área, com a localização de cada sequência de mudas ou sementes e o tempo de colheita, evitando o cultivo sucessivo de uma mesma espécie. É a chamada rotação de culturas. Em vasos, floreiras ou jardineiras: procure apenas identificar quais espécies podem ou não ser cultivadas juntas – o chamado consórcio de plantas.
Fase 2 – Escolha das variedades
No caso das hortaliças, a temperatura é o fator de maior influência sobre a produção: afeta o desenvolvimento vegetativo, o florescimento, a frutificação, a formação das partes tuberosas ou bulbosas e a produção de sementes.
De um modo geral, as hortaliças encontram melhores condições de desenvolvimento quando o clima é ameno, com chuvas leves e pouco frequentes.
Para o plantio em ambientes pequenos, prefira os vasos e floreiras. Horta vertical: exige também muita luminosidade e espécies que adaptem seu crescimento nesse sentido – ideal é montar em vasos ou floreiras, com ervas e temperos.
O que plantar?
Grandes espaços (sítios e jardins)
Abobrinha, alecrim, berinjela, boldo, brócolis, chicória, couve, couve-flor, ervilha-torta, espinafre, melissa, milho, pimenta, quiabo, repolho, salsão, sálvia, tomate e vagem.
Pequenos espaços (varandas de apartamento e quintais de casa)
Agrião, alface, almeirão, beterraba, capim-limão, cebolinha, cenoura, coentro, endro, estragão, hortelã, manjericão, manjerona, orégano, rabanete, rúcula, salsinha e tomilho.
Quando plantar?
Há frutas e hortaliças que se adaptam bem em qualquer estação do ano, mas quando se fala das hortaliças folhosas a melhor época para cultivá-las é no inverno. O outono também é uma época de menor incidência de pragas e doenças. O importante é que os plantios feitos nesse período tenham ao menos dias ensolarados para conseguir deixar as hortaliças mais vigorosas.
Fase 3 – Prepare o solo
Correção do solo
O preparo do solo é uma das operações mais importantes para o sucesso do cultivo de hortaliças orgânicas, porque mantém o equilíbrio necessário para garantir um bom desenvolvimento das plantas, capazes de suportar as adversidades (fatores climáticos desfavoráveis, ataques de pragas e doenças, entre outros). A calagem e a adubação orgânica consistem na aplicação de calcário para a correção da acidez e dos adubos e compostos orgânicos e reparo de eventuais deficiências minerais e melhoria da bioestrutura do solo. A calagem deve ser feita antes do plantio.
Adubação
Na agricultura orgânica a adubação tem como foco o solo, diferentemente da convencional em que o foco é a planta. O objetivo é manter o solo saudável e rico em organismos vivos, benéficos ao solo e às plantas. A adubação orgânica resulta em um processo constante e equilibrado, e não baixa a resistência da planta.
Adubos orgânicos: são produtos de origem vegetal ou animal que fornecem às raízes os nutrientes necessários para o bom crescimento vegetativo, sem danificar o solo. Exemplo: esterco animal, materiais vegetais triturados, compostos, tortas vegetais, etc. A aplicação deve ser feita na área total dos canteiros, sulcos ou covas, incorporando-se uniformemente. Outro adubo orgânico é o Bokashi, rico em Nitrogênio, Fósforo e Potássio – os três nutrientes-chave para as plantas, vendido em lojas de produtos para jardinagem.
Adubos verdes: é a prática de cultivar vegetais e incorporá-los ao solo. Os vegetais mais indicados e usados são as leguminosas, que fornecem grande quantidade de matéria orgânica e incorporam o nitrogênio do ar através da fixação simbiótica. As mais conhecidas são: soja, mucuna, feijão-de-porco, guandu, crotalária, etc. Também se pode utilizar plantas da família das gramíneas (ex.: aveia-preta, milho, etc.).
Biofertilizantes: são fertilizantes líquidos obtidos da degradação da matéria orgânica (estercos ou restos vegetais) em condições aeróbias e anaeróbias em biodigestor.
Compostagem
É a técnica para se obter mais rapidamente e em melhores condições a estabilização da matéria orgânica, formando o composto orgânico que, após a decomposição por minhocas, dá origem ao húmus. O que pode ser utilizado: folhas secas, palhas, serragens, cinzas de madeira, penas, lixo orgânico doméstico (menos óleo e gordura animal), aparas de grama, rocha moída e conchas, podas, resíduos da indústria de alimentos, jornais (menos os coloridos), turfa, algas marinhas, grama, ervas daninhas, borra de café, casca de amendoim, casca de frutas.
Passo a passo básico: semeadura ou plantio em vasos e floreiras
Escolha um vaso, floreira ou jardineira com diversos furos na base, para escorrer a água da rega.
Forre uma fina camada da base com argila expandida. Dica: você pode colocar cacos de telha para ajudar a água a infiltrar melhor e não ficar retida na argila.
Coloque uma camada fina de areia, que faz a função de filtro.
Forre com uma manta bidim, brita ou pó de brita para garantir a boa drenagem.
Encha até quase a borda com duas partes de terra, uma parte de “composto orgânico” e uma parte de húmus – deixando uma camada livre de aproximadamente 2cm. Não aperte nem afofe muito a terra, para que não fique compactada e bloqueie a entrada de ar.
Coloque as mudas, sementes ou bulbos na terra, deixando uma distância entre elas, de 2 a 4 cm.
Plante as hortaliças como alface, rúcula e agrião na parte central e as ervas e frutas de crescimento mais lento, nos cantos. Assim, você pode manejar melhor o recipiente, sem desperdiçar matéria-prima.
Passo a passo básico: horta vertical
Após plantar em vasos ou jardineira, você deve prever um local vertical para afixá-los.
Faça furos também atrás do vaso, para colocar um gancho que irá fixa-lo ao painel: pode ser uma treliça de metal, um suporte próprio de alumínio ou uma grade de madeira. Prefira um vaso em forma de meia lua. Assim, a parte reta se apoia na treliça e na parede.
Basta fixar os vasos já furados, com o gancho preso, à parede e encaixar os vasos nos metais para fazer a horta suspensa. Uma alternativa é colocar uma grade de portão ou fazer uma treliça de madeira.
Passo a passo básico: semeadura ou plantio no quintal
Limpe e capine a área onde será instalada a horta, para retirar entulhos, tocos e raízes de árvores, entre outros resíduos. Importante: a queimada é prática proibida no manejo orgânico. Limpe a área que será plantada. Você precisa tirar as ervas, o capim, as plantas velhas e as pedras. Aproveite esses resíduos naturais para produzir seu próprio?adubo natural.
Com uma enxada ou pá, revolva o solo a uma profundidade de 20 a 25cm (aproximadamente um palmo), quebre os torrões de terra e nivele o terreno.
Misture as sementes com areia e espalhar com a mão sobre o canteiro de maneira mais uniforme possível;
Incorpore corretivos, como o calcário, ou adubos orgânicos (ex.: estercos animais curtidos, compostos orgânicos etc.).
Se quiser construir canteiros para sementeiras, semeadura direta e para o transplante de mudas, faça com largura entre 0,80 e 1,20m; altura de 20 a 25cm e comprimento variável de acordo com a dimensão do terreno.
No caso das sementes, verifique sempre as instruções das embalagens e agrupe-as de acordo com essas orientações ou as indicações de um especialista.
Para algumas hortaliças não há necessidade de canteiros: basta revolver e destorroar a terra e, em seguida abrir as covas, adubar e plantar, como a abóbora, quiabo, berinjela, jiló e couve.
Deixe uma distância de 30 a 40cm entre os canteiros, que devem ser mantidos e protegidos com cobertura morta para controle do mato, manutenção da umidade e do equilíbrio térmico do solo
Dicas para hortas em diferentes tamanhos
Ter uma horta em casa não exige muito espaço. Veja dicas específicas para áreas de 1 m² a 5 m².
Quintal de 1 m²
Divida um metro quadrado de terra em 16 quadrados de mesmo tamanho (25 centímetros quadrados).
As plantas maiores devem ficar nas fileiras de trás e as menores, nas fileiras da frente, assim a luz solar chega para todas. No caso de sementes, podem ser colocadas em tabuleiros ou vasos
Por menor que seja a horta, o composto orgânico é essencial, porque há sempre folhagem, ramos, e os restos dos legumes, cascas, entre outros, da cozinha que passam a ter um fim mais ecológico. Pode comprar ou construir o seu compostor. Se construir, tenha em atenção que este deve no mínimo ter uma capacidade de 0.5 m3 (500 l) para conseguir armazenar o composto de todo o ano.
Quintal de 1 a 5 m²
Se você dispõe de um espaço um pouco maior, pode plantar as espécies diretamente na terra, em um canteiro. Você pode cultivar os mesmos alimentos indicados para os vasos, além de outros, que precisam de mais espaço.
Lembre-se de marcar os espaçamentos (exemplo: os pés de alface devem ficar a dois palmos um do outro);
Posicione as mudas de maneira intercalada, em forma de triângulo, para evitar a erosão;
Regue uma vez ao dia. Em regiões quentes, duas vezes ao dia até as mudas aparecerem – sempre nas horas frescas, de preferência pela manhã.
Quintal de 5 m²
Se você possui uma área maior, como um amplo quintal, pode fazer uma horta mais estruturada e com maior variedade de alimentos.
Se você tiver animais, coloque uma cerca de bambu, madeira ou outro material para que eles não entrem.
Se você mora em uma região seca, é preciso ter uma fonte de água próxima.
Coloque o composto orgânico na terra para que ela seja mais fértil e as frutas, verduras e legumes cresçam facilmente. Espalhe uma camada de 4 cm de adubo e misture bem com a terra da superfície.
Para plantar, faça um desenho da sua horta. Informe-se sobre como cresce cada fruta, verdura e legume que você pretende plantar, como eles devem ser agrupados e qual é a distância necessária entre eles para um bom crescimento.
Faça sulcos a cada 30 cm, que atravessem a horta inteira, para que você caminhe por entre a plantação sem problemas, Coloque tijolos, pedras ou madeiras dentro desses sulcos. Como regar
Projeta suas plantas
Na agricultura orgânica, é proibido o uso de qualquer produto químico para proteger ou tratar suas plantas caso apareçam pragas ou doenças. Você vai utilizar somente pesticidas caseiros, atraentes e repelentes biológicos, plantio consorciado e biopesticidas. O pico de pragas e doenças é na primavera e verão, quando há maior temperatura e umidade, condições favoráveis para o desenvolvimento dos microorganismos que atacam as plantas.
Como evitar pragas e insetos
Pesticidas caseiros: com ingredientes comuns na cozinha, você pode combater fungos, insetos, ácaros e até ratos.
Atraentes e repelentes biológicos: substâncias naturais podem te ajudar a fazer armadilhas contra as pragas que atacam sua horta, como o óleo de nim e a citronela. Você pode alternar o uso : uma semana de nim e uma semana de citronela, para garantir a eficácia do processo.
Plantio consorciado: consiste em plantar duas ou mais espécies de plantas juntas, de forma que uma sirva de repelente para as pragas da(s) outra(s). Cuidado para não colocar juntas espécies que roubarão nutrientes uma da outra. As plantas devem ser companheiras.
Faça infusão de cavalinha para ajudar no combate aos fungos.
Para o controle de pulgões e lagartas, as cinzas e o dipel (bactéria), são boas alternativas.
Para formigas, há a borra de café e bioisca (formicida natural). Você também pode fazer uma infusão ou pulverizar fumo de corda, conforme as instruções do fabricante.
Dica: na pulverização, sempre faça nos dos lados da folha (face de cima e de baixo), para aumentar em 40% a eficácia do tratamento.
*Fontes consultadas: Associação de Agricultura Orgânica (AAO), Ana Cláudia Costa Pinto Ethel (paisagista e jardinista), Marcelo Noronha (engenheiro agrônomo), livros Horta: Cultivo de Hortaliças(Prefeitura do Município de São Paulo) e Planejando a Instalação de Hortas (Embrapa).