Opinião

Um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos; Friedrich Nietzsche

Ricardo era amado ou temido? por Fabiano Gomes

Não se colhe trigo onde se plantou joio.

Ricardo Coutinho está, portanto, colhendo o fruto de sua semeadura.

E a semente era realmente ruim.

Adubada com temor.

Com ódio e rancor.

Semeados ao longo dos mais de uma década em que empunhou canetas poderosas.

E ele poderia ter feito (muita) diferença!

Como líder, poderia – por exemplo – ter proposto união política capaz de neutralizar tantos anos de contendas, que redundaram em prejuízos aos paraibanos.

Poderia ter apostado em projetos de desenvolvimento de longo prazo.

Reproduzindo, aqui, movimentos que funcionaram em Pernambuco e Ceará.

Mas Ricardo pegou o caminho oposto.

Focado, apenas, em seu projeto de poder. E operacionaliza-o da pior forma:

Usando quem ousou acreditar nele.

Maranhão foi o primeiro a ser usado e descartado.

Depois veio Cássio e Rômulo.

Luciano e Lucélio.

Ricardo não apenas usava e descartava. Humilhava.

Para ter direito a uma audiência, seus aliados de campanha esperavam até dois meses. E ainda levavam chá de cadeira na Granja. O próprio Senador Cássio chegou a esperar numa cadeira de madeira na granja de frente com Darley, a fiel e leal secretária de Ricardo, coisa de 3 horas.

O apoio e confiança retornavam em cargos vazios, desprezo.

O tempo de tv e prestígio que o PT de Cartaxo emprestou, por exemplo, voltaram na forma de um posto irrisório no Porto de Cabedelo para Lucélio e as candidaturas de João e Cida para prefeito quando Cartaxo cobrou a reciprocidade combinada.

Até a imprensa, que sonhava com tempos de liberdade no governo de um democrata-socialista, se viu ameaçada e perseguida.

Paralelo às suas atividades administrativas – que são inquestionavelmente positivas e o colocam entre os melhores de todos os tempos – ele atuou como carrasco da política e do jornalismo.

E tudo isso explica o que está brotando agora no jardim girassol.

Prestas a completar um ano sem seu artefato de poder, destituído da capacidade de inocular seus rancores e temores, Ricardo talvez tenha descoberto somente ontem, em Sousa – com rigores de clareza – de que consiste sua safra.

Grãos que não germinam. Não alimentam sequer sonhos.

Porque o plantio foi arado sobre bases de temor e não amor.

Na passagem pela cidade, onde agendou palestra e entrevista, apenas poucos veículos locais se interessaram em ouvi-lo.

Nenhuma liderança política o recebeu ou acompanhou.

Ricardo descobriu que plantou a solidão.

E está só.

 

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