Na história de toda luta costuma prevalecer a versão dos vitoriosos. No enfrentamento entre o coronel José Pereira Lima e o presidente João Pessoa, a história que prevalece é contada pelos engajados no movimento revolucionário de 1930. João Pessoa, que nunca foi revolucionário e que, preferia a vitória eleitoral de “dez Julio Prestes a uma revolução armada”, com sua morte, tornou-se o epicentro dos acontecimentos que resultaram na derrubada do presidente Washington Luiz e assunção de Getúlio Vargas ao poder. Quem conta essa odisseia do sertão, aponta Pereira como protetor de cangaceiros e homem de poucas letras. Adhemar Vidal, chefe de polícia à época, o tem como semianalfabeto.
Ledo engano. José Pereira cursava o terceiro ano de direito, no Recife, quando falece seu pai e ele assume a liderança política de Princesa. Certo dia, no Recife, visitando um seu amigo dos Pessoa de Queiroz foi apresentado a um japonês que acabara de chegar à capital pernambucana, sem nada falar de português. Encantou-se com o nipônico e ofereceu-se para levá-lo para os seus domínio sertanejos. Chamava-se Eije Kumamoto e chegara ao Brasil nos primeiros anos do século vinte. Já passara pelos cafezais de São Paulo e outras regiões do país até ser convidado pelo coronel Pereira para participar dos seus negócios no sertão da Paraíba, então governada pelo bananeirense Solon de Lucena. Era o ano de 1923.
Chegando a Princesa, o japonês conquistou a confiança da sociedade local e, principalmente, do soba princesense que foi lhe entregando, aos poucos, a direção de alguns de seus negócios, a começar pela usina de beneficiamento de algodão, engenho de rapadura e outros empreendimentos pioneiros do coronel, a exemplo da empresa de fornecimento de energia à cidade. Ágil no manuseamento de números e entendendo um pouco de contabilidade, tornou-se espécie de gerente geral das atividades comerciais do deputado Pereira.
A decretação do Território Livre de Princesa e a luta armada que o coronel Pereira preparou para enfrentar as tropas legais do Estado da Paraíba, contaram com a participação desse filho do oriente ali já enraizado e se preparando para casar com uma moça de tradicional família local, o que ocorreria em 1937. Eije Kumamoto entre outras tarefas essências à batalha, foi encarregado da mais perigosas das missões: transportar valores doados pelos amigos do coronel para financiar sua luta contra João Pessoa.
Terminada a luta de Princesa com o desarmamento do coronel Zé Pereira, pelo exército, o japones Kumamoto permaneceu em Princesa, mesmo sentindo a ausência do seu líder maior que se evadiu para escapar à perseguição dos revolucionários de 30. Eije dedicou-se então à compra e venda de algodão e com essa renda, conseguiu educar seus rebentos entre os quais citaria o médico Italo Kumamoto de grande conceito profissional.
O médico e eterno deputado Aloiso Pereira, de quem fui companheiro na Assembleia, ao descrever a trajetória de sua vida e a epopeia do seu estimado pai, dedicou um capítulo do livro a Eije Kumamoto como preito de reconhecimento da sua família ao trabalho dedicado desse filho do sol nascente ao coronel José Pereira Lima e à sua saga tumultuada, mas sempre respeitada.
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