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Tempos dos jogos (parte I) – Por André Aguiar

Nasci na bucólica e linda cidade de João Pessoa, disso me orgulho, aqui onde sol, o verde das matas e do mar falam alto, é terra de muro baixo, ou seja, todo mundo se conhece, pelo menos nos idos dos anos 1960 até uns tempos pra cá era assim, (década de 1980), mas que talvez nos dias atuais nem tanto.

Como falei em artigo anterior, João Pessoa é uma capital rurbana, que quer dizer uma cidade urbana com características e hábitos de cidade rural, provinciana. Para não restar dúvidas, falo isso não no sentido pejorativo, mas evidenciando os bons frutos de um lugar pacatode gente boa e ordeira.

Meus primeiros passos foram de pés no chão, jogando bola ou andando de bicicleta noscampos e ruas de terra, do tradicional bairro da Torre, lugar de pessoas simples, família, de tradição cristã, da famosa escola de samba malandros do morro, do time do Palmeiras da Torre, do farto mercado público, dos ranchos em festas juninas, dos circos e parques de diversão, da Praça São Gonçalo e Praça Pedro Gondim, ali vivi uma feliz infância.

O bairro de Jaguaribe por ser o lugar de meus avós maternos, era consequentemente o meu, jogando futebol nas ruas e chutando o calçamento, (arrancando o chaboque do dedo)comendo cachorro quente no mundial lanches e indo a missa na Igreja de Lourdes e do Rosário (talvez a mais bonita Igreja da Capital), lugar do time do Estrela do Mar (Frei Albino) bem comodo Santos de Tereré e ainda do bar do Luzeirinhoe da Praça dos Motoristas, do Centro Administrativo Estadual, do conhecido mercado público, do CEFET, do Laureano e do gostoso e aprazível Jardim Glória.

Naquele tempo a Televisão e telefone eram coisas raras, nossas brincadeiras e jogos eram nas ruas mesmo, e tinham suas épocas, como nas safras de manga, de jambo, de caju, também tínhamos os tempos dos jogos; Bolas de gude, peão, papagaio (pipa), futebol de botão (era bom demais), xadrez, dama, ping pong (tenis de mesa), tênis de quadra, isso mesmo, “aprendi” a jogar tênis na praça, basquete (garrafão), vôlei, espiribol, e para os mais sortudos como eu, banco imobiliário, e war, ainda joguei o telejogo, um dos primeiros jogos eletrônicos a existir.

Para mim o futebol era meu esporte predileto, digo o de salão, que era um pouco diferente do jogado hoje, (futsal) regras diferentes, bola, outra dinâmica, por sinal, acho o de hoje mais bonito de se vê, não sei.

Pois bem, aos nove/dez anos (1975) fui convidado para jogar futebol de salão, no campeonato paraibano na categoria dente de leite (era assim que se chamava na época). Eu estudava no Colégio Pio XII (primário) depois no Instituto Presidente Epitácio Pessoa (IPEP) (ginásio e científico), meus amigos de colégio jogavam no Cabo Branco, um clube seleto. Acontece, porémque o treino de futebol de salão do Cabo Branco coincidia com o horário da cultura inglesa (inglês)e era “chance zero” de meu pai permitir a troca, ou qualquer outra negociação que não prestigiasse os estudos em primeiro lugar.

Para minha alegria e orgulho, jogavacom meus amigos da Praça São Gonçalo contra os meus amigos do colégio (cabo branco). Foi ali no esporte, dentro da quadra, que aprendi que realmente o que vale, é o que você verdadeiramente é, e não o que você tem ou deixa de ter. O que valia dentro de quadra, era a bola no pé, a habilidade e talento é o que contava ao final,e não se aquele morava em casa de palha (como alguns) ou em palácios (como outros), filho de fulano ou de cicrano, se estudava em escola pública ou privada, ali não valia nada dessas coisas, durante e ao final do jogo, valia mesmo era bola na rede e pronto.

No esporte, aprendi desde muito cedo, a conviver com pobres e ricos, humildes e arrogantes, mansos e violentos, falantes e reservados, inibidos e desinibidos, fortes e fracos,lentos e velozes, a entrar e a sair de situações com dribles e a vibrar ou chorar com os mais queridose nem tanto assim, nas vitórias ou derrotas, saber ganhar e saber perder, respeitar as regras do jogo que se tornaram regras de vida.

A Paraíba sempre destacou nacionalmente no futebol de salão, desde os tempos de Tito, Milton Farias, Tengo, Babá e Givaldo Leal de Menezes, Gama, Novinho, Saulo Caldas, Saulo Nóbrega, Jader Freire. Na minha geração, Mauricio Caldas, Aracoeli Ramalho, Paulo Santos Diniz, Mazureik, Dorgival Junior, José Hermes, Walfredo, Elói, Ranyeri Abrantes, depois Tarranca, Kido, Alexandre Aguiar, Rabicó e mais recentemente, Fininho Góes, muitos talentos….

Aos quatorze anos, foi instado a jogar handebol, por influencia de minha turma do colégio, para estar junto deles, era a época dos Jogos Escolares ali no antigo DEDE e dos famosos jogos da Primavera no Clube Astréa.

Ginásios lotados, torcida vibrante, se aglomeravam numa linda festa desportiva, lugar de paqueras, namoros e encontros. Lembro que a Paraíba foi sede dos Jogos Universitários e ali no Ginásio da UFPB, ficou super lotado, houve a final do handebol, era o tempo de Isaque Alves, Ricardo Brindeiro, Maurição, Gim Cantizane, Fábio (Biu galinha) dentre outros.

A Paraíba sempre foi destaque a nível nacional no handebol, os primeiros incentivadores foram os professores Lula Cabral, Nogueira e Ribamar, daí nasceram grandes atletas, como Acácio, Cláudio Índio, Denilson, Everaldo,Péricles, Egliberto, Bié, Fabrício, Alemão,Delgado, Paraíba, Maurício (goleiro), Antônio Nery, Guga Almeida, Botinho, Paulo Germano.Na minha geração, Gustavo Lemos (Guga), Hermes, Werter, Josivam, Hermano Gadelha, Pola e Flavio Vilarim, Borrô, Fábio Ribeiro, Cezinha, Paulo de Tarso, Ian Nóbrega, na geração um pouco à frente lembro de Galiza, Wesley, Bahia, Alexandre Aguiar, Túlio Diniz, dentre outros…. Tinha ainda a competente ala feminina, Fabíola, Marize, Zilda, e no meu tempo, Crizeuda, Odiza, Ceres, Bel, Socorro Garcia, Clênia, Rossana Marques (técnica da seleção brasileira de handebol de praia), Isabela Maroja, Patrícia Carvalho, Ana Maria Gonçalves (goleira) Anne Shirley, Geusa Dantas, dentre muitas outras.

O basquete Paraibano era outro destaque nas quadras, pesquisei e fui encontrar o técnico Togo Renan Soares, que nasceu em João Pessoa 105 anos atrás e se radicou no Rio de Janeiro. Kanela, como era popularmente conhecido, foi o técnico que, entre outras conquistas, comandou a seleção brasileira bicampeã mundial em 1959 e 1963 e conquistou as medalhas de bronze nos Jogos Olímpicos de Roma, em 1960; e nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 1964. Morreu em 12 de dezembro de 1992, aos 86 anos de idade. Quinze anos depois de sua morte, em 2007, veio o reconhecimento mundial definitivo, ao ser o primeiro treinador brasileiro incluído no Hall da Fama do Basquete.

Nos tempos dos jogos da primavera e jogos estudantis (anos 80) lembro de Túlio Sérgio,André Guilherme, Glauco Rogério, Max Guedes Pereira, Fábio Santana, Gustavo, Márcio, Gabriel Calzavara, Cláudio Calzavara, Rossini Freire,Alfredo, Hércules Cunha(Pai), Mário Gemóglio, Renan Cordeiro, Luiz Firmino,  Gilmar Coutinho,Nelson Calzavara. No Feminino (década de 80)Josimeire Oliveira(Meca), Edilane Araújo, Margareth, Clênia dos Anjos e Taísa Medeiros, as que me lembro.

No Voleibol nos jogos do DEDE e da Primavera também tinha seus grandes jogos e grandes atrações como por exemplo: Romero Lobo, Roncálio, Peixoto (Bacurau), HalfredoHeim, Juca Germóglio,  Maurinho Germóglio,Cacau Germoglio,  Marcelo Gadelha, Eduardo eGustavo Porto, Josebias, Alexandre Cunha, Paulo,Marcílio Ferreira (do HBE), Aldemir, dentre outros. No feminino lembro de Ana Paula Gadelha, Alcione, Elsa Helena Madruga, Tereza Oliveira, Elaine, Betina, Cláudia (irmã de Zé Marcos) e muitas outras craques.

A natação também era destaque nos jogos, além dela o nado sincronizado, póloaquático, saltos ornamentais.

A natação e polo aquático eram destaques nacionais e internacionais tendo a frente Kay France (atravessou a o canal da mancha) e recentemente Kaio Márcio, campeão e recordista mundial.

Lembro aqui os que se destacavam nos jogos de Polo Aquático: José Marcio (pai de kaioMárcio) e Silvio; Leonardo Vergara, Edmundo Vergara, Rivaldo Vergara, Kleber Medeiros,Abílio Nogueira, Mac Giorgivan, Euclide de Sá Filho, Cláudio Lemos, Marcelo Queiroz, Romulo e Romeu Rangel, Romero Maia, Luciano Carvalho. Na Natação feminina tinha Sirlene, Suylene e Sandra, todas irmãs, confesso que não me lembro muito das outras meninas….

A Ginástica olímpica e rítmica nos jogos era capítulo a parte para mim, eu era fã de carteirinha das meninas, ficava ali na fila dogargarejo e de longe e de perto observava as lindas apresentações de doces gestos e danças,bem como de muita força e agilidade nos aparelhos e tatames.

Destaco aqui Paula Ferreira (professora) Maria Eulina Aguiar, Moema Almeida, Socorro Cirilo, Socorro Viana, Sandra, Gisleide Costa(mãe de Kaio Márcio), Kátia Virgínia, Eliane Reis, Lenise, e muitas outras. No masculino, destacava-se Marcone (professor ), Júnior e Wilton, Jonas irmão de Paula, Ubirajara, SérgioOliveira, Luciano, Nacilvo e Tião nutricionista.

Vou finalizar pedindo desculpas pelo esquecimento de tantos nomes e prometendo a segunda parte daqueles que fizeram parte da história dos bons tempos dos jogos.

Por André Aguiar em 19 de abril de 2021.

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