Sem dúvida que, deixar de sair de casa na sexta-feira, 13, é uma superstição arraigada de há muito na mente dos brasileiros. Tivéssemos herdado de Portugal, como outras mazelas que nos afligem, estaríamos a festejar a data.
Até sendo uma sexta-feira de agosto, quando entre nós se afere um azar redobrado. Na terra de Cabral muitas cidades e vilas festejam a sexta-feira,13. A maior festividade se registra no castelo de Montalegre, em Trás-os-Montes, segundo busquei em rápida navegação pela internet, com a presença de bruxas, feitiços e fogueiras. Em Vinhais, o evento é celebrado em torno de uma grande fogueira onde se degustam os produtos locais. Já em Leiria, as mulheres realizam um encontro onde é proibida a entrada masculina.
Mas essa superstição antecede a Cristo. Em muitas culturas, o número treze era considerado da sorte. Para os egípcios, por exemplo, a vida era composta de doze estágios. No 13º estágio o ser humano alcançaria a vida eterna. Essa ligação do 13 com a morte não era encarada negativamente, mas como uma “gloriosa transformação”. Culturas que tinham medo da morte, distorceram a ideia por não aceitarem a dita cuja como o destino final “de qualquer vida”. Na mitologia nórdica, conta-se que doze foram os convidados para um banquete. O espirito do mal e da discórdia, apareceu sem ser convidado. O 13º convidado provocou um entrevero que resultou na morte de um favorito dos deuses.
Para o mundo cristão, um evento de má sorte teria ocorrido em 13 de outubro de 1307, uma sexta-feira: a Ordem dos Templários foi declarada ilegal pelo Rei Felipe IV, da França e seus membros foram presos, torturados e depois executados por heresia. Outra ideia é a de que Jesus Cristo teria sido executado em uma sexta-feira, 13. Aliás, ao sentar-se para a Santa Ceia, Jesus tinha ao seu redor os doze apóstolos. Dos 13 que se sentaram à mesa, Jesus e Judas morreram pouco depois, um na cruz e o outro na corda.
Aqui entre nós, o 13 é o número do Partido dos Trabalhadores e, alguns de seus fundadores, amarguraram um destino que nunca sonharam. Ocuparam o paraíso por exatos 13 anos e depois, expulsos, sofreram a maldição do número 13, que lhes deu muita sorte por algum tempo e muito azar por anos ainda não calculados. Foi numa sexta-feira, 13, que um comício na Central do Brasil selou o destino do governo João Goulart.
De minha parte a superstição é com o nove, nove fora nada. Herdei do meu pai. Ele não comprava um veículo cuja placa, somados os números, terminava em “nove fora nada”. Quando ele nos deixou, fui olhar a placa do seu fusca e o número somado terminava em “nove fora nada”. Herdei a tradição pois achei que sua superstição tinha fundamento…
Com o treze nunca me preocupei. Estava deputado federal e o professor Damião Ramos convidou-me para ir ao Rio com ele. Ponderei, em tom de blague, que era uma sexta-feira, 13 de agosto. Entrar num avião nessa data é preciso não ter qualquer superstição. Damião, que era superintendente da FAE mas já fora um cidadão do mundo, desmistificou minha ponderação. Ex- seminarista, morador de várias cidades da Europa e principalmente de Roma, onde a vizinhança com o Papa o fez desistir da batina: viu que não chegava à janela do Vaticano. Com essa formação, não dava para acreditar em bruxas. Partimos.
No Canecão, uma peça alusiva à data, com bruxas e assombrações. Preferimos o show de Fagner para matar a saudade nordestina. A professora Ana Maria, mãe do senador Lindemberg foi nossa cicerone em alguns pontos da cidade. Seu filho, à época, vivia ainda as glórias de ter liderado os caras-pintadas contra Collor. Para mim, aquela sexta-feira 13 foi um dos melhores dias que vivi. Pouco depois, naquele mesmo agosto, fui nomeado, pelo presidente Itamar Franco, diretor do Banco do Nordeste. Por isso que o 13 é encarado como azarado para uns e número de sorte para outros.
Ramalho Leite