Um vídeo com a execução de um jovem negro na comunidade de São Miguel, no bairro de Messejana, em Fortaleza, é alvo de investigação da Polícia Civil do Ceará. A filmagem, com data de terça-feira passada, choca pelo grau de frieza dos assassinos. Nela, é possível ver a vítima sendo alvejada por tiros, sem chance de defesa, enquanto os autores dos disparos e da gravação se divertem com o crime. Uma mulher, já com o homem morto, pede para que o acertem na cabeça antes de reclamar um disparo. A identidade dos criminosos ainda é uma incógnita.
Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS), a Polícia Civil tomou conhecimento da morte de um homem em tais circunstâncias na região na terça-feira passada, mas ainda não conseguiram identificá-lo. O caso é um dos 660 crimes violentos letais intencionais registrados só nos primeiros 49 dias deste ano no Ceará (estão disponíveis estatísticas somente até dia 18 de fevereiro). Da sexta de carnaval até a quarta-feira de cinzas, foram 76 crimes deste tipo, número aproximadamente 7% maior do que o registrado em 2014 no mesmo período, quando houve 71 assassinatos.
Das 660 mortes, 274 ocorreram na capital, sendo 175 na periferia da cidade. As estatísticas revelam também que, em sua maioria, os crimes têm traços de execução: são praticados com uso de armas de fogo contra homens jovens, com até 30 anos de idade.
Pesquisadores como o sociólogo César Barreira, coordenador do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (LEV-UFC), afirma que este é mais um exemplo da criminalidade crescente no Estado, que, cada vez mais, utiliza-se de requintes de crueldade.
— Algumas pessoas falam que a violência é democrática, mas pelos estudos que desenvolvemos ao analisarmos dados oficias, a violência tem suas vítimas específicas. São eles jovens, negros e pobres, como o que vemos no vídeo. O registro é também o exemplo das práticas que mais crescem, as com requintes de crueldade e sem aparentemente justificativa — analisa ele.
De acordo o sociólogo, três fatores levam ao aumento do índice: a intensificação do comércio de drogas, a maior circulação de armas de fogo e uma estrutura familiar frágil. (Matéria: O Globo)