“Não podemos permitir que esta minoria bandida e covarde ameace a vida das pessoas.” Há uma semana, a executiva estadual do PT no Rio Grande do Sul subia o tom ao repudiar as agressões sofridas por mulheres petistas durante a passagem da caravana de Luiz Inácio Lula da Silva pelo Estado. Dois dias depois, foi a vez da executiva do Paraná qualificar o ataque a tiros aos ônibus da caravana em Laranjeiras do Sul como um ato fascista e compará-lo ao contexto social que levou à ascensão do nazismo na Alemanha. Porém, após a mobilização da militância diante da iminente prisão do ex-presidente, o partido ainda não se pronunciou oficialmente sobre os distúrbios violentos protagonizados por seus seguidores nos últimos dias.
Na noite da última quinta-feira, quando o líder do PT se reunia com aliados na sede do Instituto Lula, em São Paulo, um opositor do ex-presidente foi parar no hospital depois de ter sido hostilizado e agredido por militantes petistas. Empurrado, ele acabou batendo a cabeça no para-choque de um caminhão que passava pela rua. A cena é chocante. O manifestante anti-Lula, que havia provocado o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e Márcio Macedo, um dos vices-presidentes do PT, ficou alguns minutos desacordado no asfalto antes de se dirigir ao hospital e ser diagnosticado com traumatismo craniano. Nesta sexta-feira, o deputado federal de extrema-direita, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), ferrenho opositor de Lula, protocolou queixa por tentativa de homicídio no Ministério Público de São Paulo contra o ex-vereador Manoel Eduardo Marinho, o Maninho, do PT de Diadema, acusado de empurrar o manifestante contra o caminhão.
Ainda na noite de quinta, jornalistas que cobriam a mobilização no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, sofreram intimidações de simpatizantes mais exaltados de Lula. Um homem, que não foi identificado, mas vestia uma camisa da Central Única dos Trabalhadores (CUT), arremessou ovos em direção aos profissionais de imprensa. Em Brasília, onde também houve atos em solidariedade ao ex-presidente, equipes de televisão alegaram ter sido ameaçadas por manifestantes. Um grupo deles, inclusive, relataram que o vidro de um carro do jornal Correio Braziliense foi quebrado em frente à sede da CUT na capital federal. Entidades de classe como a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) condenaram os ataques praticados contra jornalistas.
Já no fim da tarde desta sexta-feira, militantes ligados ao MST e Levante Popular da Juventude que se dirigiam à manifestação em apoio a Lula no centro de Belo Horizonte jogaram tinta vermelha no prédio da ministra Cármen Lúcia como forma de protesto pela negação do habeas corpus no STF. Segundo funcionários do edifício, não houve agressões nem quebra-quebra durante o ato. Os manifestantes deixaram as imediações do prédio após a chegada da Polícia Militar. A Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) saiu em defesa da ministra do Supremo, entendendo que “não é absolutamente razoável que um magistrado, desde a primeira instância do Judiciário até a Suprema Corte brasileira, veja-se constrangido, punido ou de algum modo violado pelo conteúdo das suas decisões”.
Integrantes do PT que engrossam a concentração no Sindicato dos Metalúrgicos não quiseram fazer comentários sobre os incidentes e episódios violentos. Em nota oficial divulgada no último dia 25 de março, o partido afirmou que “a política do ódio é o oposto da política do PT”. Para manifestar seu repúdio aos atentados sofridos pela caravana de Lula no Sul do país, a executiva nacional do PT ressaltou que “o país não pode conviver com a violência destes setores autoritários, que usam métodos fascistas para calar e interditar aqueles de quem discordam”. Os últimos episódios registrados, no entanto, destoaram dessa filosofia.