EUA

Quais são as chances de Trump sofrer um impeachment? Analistas respondem

Ao divulgar, na terça-feira (1º/5), as 49 questões que o promotor especial Robert Mueller enviou aos advogados de Donald Trump sobre a suposta influência russa nas últimas eleições norte-americanas, o jornal The New York Times escreveu mais um capítulo do escândalo que tem deixado o presidente dos Estados Unidos em uma situação extremamente delicada.

Mueller é responsável pela investigação e espera que Trump esclareça dúvidas relacionadas ao tema e, principalmente, a uma possível tentativa do presidente de obstruir o inquérito, um crime grave que, caso comprovado, poderia levar ao impeachment do magnata. Mas quais são as chances de isso, de fato acontecer?

James Naylor Green, historiador da Brown University (em Rhode Island), classificou as perguntas de Mueller como “previsíveis”. “O problema está relacionado às respostas de Trump, especialmente se ele mentir. O vazamento das questões também seria pretexto para a recusa em se reunir com Mueller. No entanto, o promotor especial tem o direito de indiciar o presidente, a fim de que ele testemunhe perante um Grande Júri, sem a presença de um advogado”, disse.

O especialista acredita que o vazamento das questões torna uma eventual demissão de Mueller muito mais difícil e acha improvável a instauração de um processo de impeachment.

“Os democratas deverão retormar a maioria na Câmara dos Deputados, nas eleições de novembro. De qualquer modo, o Senado precisaria de 67 votos para afastar o presidente, o que exigir apoio governista. Os republicanos têm sido defensores leais de Trump. A única possibilidade (de um impeachment) seria uma mudança de posição, após derrota avassaladora na Câmara ou ante claras indicações de que Trump tinha conhecimento direto da influência russa nas eleições. Tudo dependerá do relatório final de Mueller”, disse Green.

Clinton e Nixon 

Autor de The case for impeachment (“O caso pelo impeachment”), Allan Lichtman — analista político e historiador da American University (em Washington) — pensa de modo diferente. Segundo ele, caso Mueller conclua que Trump praticou obstrução da Justiça, o impeachment “certamente será possível”, especialmente com o provável sucesso democrata nas eleições de meio de mandato.

“Bill Clinton sofreu processo de impeachment por obstrução, e Richard Nixon renunciou, em vez de ter o mesmo destino. Trump poderia ser afastado se estiver envolvido em uma conspiração com os russos para fraudar as eleições de 2016 ou para cometer crimes financeiros. A condenação no Senado seria muito mais difícil, pois exigiria dois terços dos votos”, disse à reportagem.

Lichtman admite que Mueller pode emitir uma intimação para forçar um testemunho convincente, e Trump teria direito de contestá-la nos tribunais. O estudioso nega que o vazamento das 49 perguntas comprometerá a investigação como um todo. “Mueller tem muito mais informações baseadas em documentos e em outras testemunha. É provável que ele já conheça as respostas à maior parte dessas questões”, observa.

Por sua vez, o ex-agente da KGB — o serviço secreto da antiga União Soviética — Jack Philip Barsky, alertou ao Correio sobre a necessidade de cautela. “Quando se trata do submundo da espionagem ou de temas relacionados, a verdade leva décadas para vir à tona. Muitas vezes, nem sequer a conheceremos.”

Entenda as sete perguntas mais delicadas enviadas a Trump

1- Qual conhecimento o senhor teve sobre qualquer divulgação, por parte de sua campanha, incluindo Paul Manafort, sobre a potência ajuda da Rússia à campanha?

Há poucas semanas, Manafort não era considerado uma figura-chave na investigação sobre conluio. Um processo instaurado no mês passado revelou que Mueller tinha buscado autorização para expandir a investigação a acusações de que Manafort “cometeu um crime ou crimes, em conluio com autoridades russas”. Mueller também mantém foco sobre Konstantin Kilimnik, um empresário sócio de Manafort que teria ligações com a inteligência russa durante a campanha de 2916.

 

2- Como foi a decisão de demitir o senhor Flynn em 13 de fevereiro de 2017?

Mueller está interessado em saber o motivo pelo qual Trump tuitou, em dezembro passado, que demitiu o ex-conselheiro de Segurança Nacional “porque ele mentiu para o vice-presidente e para o FBI”. Depois de demitir Flynn, Trump se aproximou de Comey para buscar clemência para o ex-assessor. Isso denotaria obstrução de Justiça e uma tentativa de proteger Flynn.

 

3- O que o senhor pensou e fez em reação às notícias de que o promotor especial (Mueller) estava conversando com os senhores Rogers, Pompeo e Coats?

No ano passado, o The Washington Post  informou que Trump questionou o diretor de Inteligência Nacional Daniel Coats se ele poderia intervir para que Comey apoiasse Flynn. O então diretor da Agência Central de Inteligência (CIA), Mike Pompeo, estava presentre na reunião. Outro funcionário citado é o diretor da Agência Nacional de Segurança, Michael Rogers.

 

4- O senhor discutiu até que ponto o senhor Sessions o protegeria e referenciar os procuradores-gerais do passado?

Trump teria demonstrado frustração com a postura de Jeff Sessions, procurador-geral, e lembrou que o antecessor, Eric Holder Jr., “protegeu totalmente” Obama. Mueller quer saber até que ponto o presidente  pediu a proteção de Sessions.

 

5- O que o senhor pensou e fez em reação às notícias de indicação do promotor especial?

As suspeitas, segundo o The Washington Post, são de que Mueller estaria ciente de algum evento específico que desejaria discutir com Trump. O motivo desta pergunta, para muitos especialistas, é um mistério.

 

6- Que discussões o senhor teve sobre extinguir o cargo de promotor especial, e o que fez quando tal consideração foi relatada em janeiro de 2018?

Trump parecia publicamente negar que buscou demitir Mueller, ao chamar a informação de “fake news” (“notícia falsa”). De qualquer forma, o promotor especial quer saber se o presidente enganou a opinião pública sobre suas próprias ações ou se Trump tomou alguma ação não divulgada.

 

7- Durante uma viagem à Rússia, em 2013, que comunicações e relações o senhor teve com as autoridades russas e com a família Agalarov?

Em 2015, Trump se gabou de ter se reunido com oligarcas russos, incluindo Aras Agalarov, e com autoridades do governo, dois anos atrás, às margens do concurso Miss Universo, em Moscou. “Eu estive com gente de alto nível, ambos oligarcas e generais, e pessoas do topo do governo. Eu não posso adiantar mais do que isso, mas eu direi que encontrei pessoas do topo”, disse a uma rádio.

Mais popular