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Presidente da Andrade Gutierrez é indiciado pela Polícia Federal

otavio1A Polícia Federal (PF) entregou à Justiça, neste domingo, o relatório das investigações sobre a participação da Andrade Gutierrez em esquemas de corrupção na Petrobras. Nove pessoas foram indiciadas pelos crimes de corrupção, formação de cartel, fraude em licitações e lavagem de dinheiro. Entre elas, estão o presidente da construtora, Otávio Marques de Azevedo, e o executivo Elton Negrão, que cumprem prisão preventiva em Curitiba. Em nota, a empreiteira negou “qualquer relação com os fatos investigados pela Lava-Jato”.

Em documento encaminhado ao Ministério Público Federal neste domingo, o delegado Eduardo Mauat da Silva reconheceu que os agentes federais não analisaram todo o material apreendido nas empresas e nos endereços residenciais dos indiciados: “Oferecemos o presente sumário a vista do exíguo prazo decorrente da segregação provisória dos indiciados, em que pese constem celulares, mídias e alguns documentos pendentes de análise”.

Otávio e Elton Negrão são os únicos da lista de funcionários ou ex-empregados da Andrade que estão presos na carceragem da PF de Curitiba. Foram indiciados ainda Rogério Nora de Sá, ex-presidente do grupo, e os ex-executivos Antônio Pedro Campello de Souza e Paulo Roberto Dalmazzo. Do grupo de operadores do esquema da Andrade Gutierrez, foram citados: Flávio Lúcio Magalhães, Mário Goes, Lucélio Goes e Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano. Mário e Fernando Baiano também estão presos em Curitiba, pois já foram citados como operadores de outras empresas.

Também terminou no fim de semana o prazo para a PF apresentar o relatório das investigações contra a empresa Odebrecht. Após a entrega desse relatório, o Ministério Público Federal tem cinco dias para analisá-lo e apresentar a denúncia — o que deve acontecer na próxima sexta-feira. Em seguida, o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal, vai decidir se aceita o pedido do MPF. Se ele aceitar a denúncia, os empreiteiros viram réus e passam a ser formalmente acusados pela prática dos crimes.

IRREGULARIDADES EM QUATRO CONTRATOS

O relatório aponta indícios de irregularidades em quatro contratos firmados entre a Andrade Gutierrez e a Petrobras, de 2008 a 2011. São citadas obras feitas pela empresa no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e na Refinaria de Paulínia (Replan). A investigação afirma que o resultado dessas licitações foi determinado previamente pelo cartel montado pelas construtoras investigadas na Lava-Jato para dividir os editais da estatal.

Para justificar o indiciamento, os agentes federais usaram informações passadas por delatores da operação. Segundo eles, a empreiteira pagou propina para diretores da Petrobras; parte desse dinheiro iria para partidos políticos. Em uma das movimentações financeiras descritas no relatório, a Andrade Gutierrez contratou a Rio Marine para uma consultoria. A análise do contrato pelos peritos, porém, mostrou que “os pagamentos listados foram realizados sem lastro fático e documental adequado”. A Rio Marine pertence a Mário Goes.

Mário e seu filho, Lucélio Goes foram indiciados como operadores do pagamento de propina da Andrade. Também foi apontado como responsável pela mesma função Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano e já investigado pela operação Lava-Jato por estar envolvido em operações financeiras de outros grupos.

O executivo da Andrade Elton Negrão e o ex-funcionário da construtora Antônio Pedro Campello de Souza e Elton Negrão são apontados pela investigação da PF como “contatos para o recebimento de propinas e participação de reuniões do cartel”, tendo defendido a real existência de serviços prestados pelos operadores. Embora não trabalhe na companhia, Paulo Dalmazzo também é citado como um contato da construtora por delatores.

Flavio Lucio Magalhães é relatado como um operador, que teve contatos com o doleiro Alberto Youssef e com Leonardo Meirelles, utilizado por Youssef para fazer operações cambiais fraudulentas no exterior.

Já o presidente da Andrade, Otávio Marques de Azevedo, foi indiciado por ter comprado uma lancha para Fernando Baiano, o que comprovaria sua relação com o operador. Assim como ele, o ex-presidente da empreiteira, Rogério Nora de Sá, foi indiciado porque, na opinião dos investigadores da PF, os esquemas de corrupção não eram “mera iniciativa de algum executivo de forma isolada e em benefício próprio, hão de ser entendidos como atos de gestão do grupo Andrade Gutierrez”.

O presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, indiciado ontem pela PF por vários crimes, negou ter relações de amizade com o lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano. Mas o executivo não explicou, no depoimento à PF, porque, em outubro de 2012, vendeu um barco de sua propriedade para Baiano por R$ 1,5 milhão. Baiano, que também foi indiciado ontem no mesmo inquérito, é acusado de ser um dos operadores da Andrade junto à Petrobras.

PRESIDENTE NEGA PROPINA

Em depoimento ao delegado Eduardo Mauat da Silva, Otávio negou ter feito parte do esquema para fraudar licitações da Petrobras. Ele diz que nunca pagou vantagens ilícitas a funcionários e dirigentes da Petrobras e que, tão logo foi deflagrada a Lava-Jato, foi realizada uma auditoria interna que constatou que a empresa não teria envolvimento com os ilícitos.

Otávio negou ter relações de amizade com Fernando Baiano, mas não explicou porque, em outubro de 2012, vendeu um barco de sua propriedade para Baiano por R$ 1,5 milhão. Baiano, que também foi indiciado ontem no mesmo inquérito, é acusado de ser um dos operadores da Andrade junto à Petrobras.

O presidente da Andrade reconheceu que participou de reunião com o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, réu confesso na Lava-Jato. Otávio disse que a reunião tinha “finalidade de tratar da posição da empresa perante a Petrobras, sendo ponderado que a Andrade deveria ter participação maior nas obras da estatal”.

Outro diretor da Andrade Gutierrez preso na Lava-Jato, Elton Negrão de Azevedo Junior, admitiu ter participado de reuniões com outras empreiteiras para debater assuntos “de interesse comum”. No depoimento à PF, Negrão disse que as reuniões não se tratavam de ajustes das empreiteiras, mas sim de discutir reajustes dos contratos com a Petrobras que, segundo ele, não estavam seguindo a inflação. Ele negou ter pago propinas a diretores da estatal.

NOTA DA ANDRADE GUTTIEREZ

Em nota, a Andrade Gutierrez reafirma “que não tem ou teve qualquer relação com os fatos investigados pela Lava-Jato”.

“A empresa reitera que nunca participou de formação de cartel ou fraude em licitações, assim como nunca fez qualquer tipo de pagamento indevido a quem quer que seja. A empresa reafirma ainda que não existem fundamentos ou prova que justifiquem a prisão e o indiciamento de seus executivos e ex-executivos. A Andrade Gutierrez volta a afirmar que sempre esteve à disposição das autoridades para colaborar com as investigações e esclarecer todas as dúvidas o mais rapidamente possível, restabelecendo de vez a verdade dos fatos e a inocência da empresa e de seus executivos”.

Redação com MaisPB

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