Lideranças governistas dizem ter confiança de que a denúncia contra o presidente será recusada, mas clima na Câmara é de incerteza.
Entre os dez principais partidos da base aliada do governo, nenhum ainda fechou apoio ao presidente Michel Temer (PMDB) na votação em que ele tentará derrubar a denúncia apresentada, por corrupção passiva, pela Procuradoria-Geral da República (PGR). No Congresso, para um líder, “fechar a questão” significa determinar (ou ao menos tentar) como os parlamentares da sua legenda devem se comportar em uma votação específica, sobre pena de punições partidárias.
Os deputados que comandam as bancadas governistas agendaram reuniões para esta semana, na tentativa de definir um posicionamento que devem adotar em relação ao caso na Câmara dos Deputados. Apesar de as lideranças afirmarem que há maioria na Casa para derrubar a denúncia, o clima é de incerteza.
As principais legendas da base reúnem, ao menos, 327 parlamentares, o que garantiria ao presidente uma vitória tranquila caso todos votassem contra as acusações elaboradas pelo procurador-geral Rodrigo Janot. No entanto, nem o PMDB, partido do presidente, fechou ainda questão contra o processo. A legenda tem 63 dos 513 deputados federais.
“O fechamento de questão não foi discutido. Mas nem será necessário, a bancada está unida. Não há nenhum fato concreto que possa incriminar o presidente”, disse o líder do PMDB na Câmara, Baleia Rossi (SP). Entre os partidos aliados, o caso mais crítico é o do PSDB. A primeira etapa da tramitação da denúncia é na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) – e, lá, seis dos sete tucanos devem votar pela aceitação da denúncia.
O deputado Ricardo Trípoli (PSDB-SP), líder da legenda, declarou que vai reunir a bancada de 46 parlamentares também durante esta semana. A expectativa é de que a pressão pelo desembarque do governo aumente. Os tucanos ainda têm uma delicada situação interna para decidir: antecipar ou não a convenção nacional com o objetivo de eleger uma nova Executiva, definindo a situação da presidência do partido. Desde o dia 18 de maio, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) está afastado da função, exercida interinamente pelo também senador Tasso Jereissati (CE).
Na quinta-feira, o presidente Michel Temer foi oficialmente notificado sobre a denúncia. Agora, ele tem o prazo de dez sessões para se posicionar a respeito. Outro partido dos mais próximos ao governo que está indefinido é o DEM. O líder da legenda, Efraim Filho (PB) evitou fazer uma defesa enfática do presidente e disse que a bancada só tomará uma posição após as justificativas de Temer. “Até agora, é conhecida apenas a versão da acusação por meio da denúncia enviada pela PGR”, disse.
O DEM é justamente a legenda do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), o primeiro da linha sucessória, que assumiria provisoriamente o cargo caso a denúncia seja aceita. Maia se descolou do Palácio do Planalto nos últimos dias.
Termômetro
O líder do Podemos, Alexandre Baldy (GO), também disse que ainda “é muito cedo” para ter um termômetro da situação. O seu partido tem 14 deputados. Já em legendas como o PSD, PP, PR e PTB, o discurso predominante é o de que a denúncia não traz provas concretas contra Temer. Juntas, as quatro legendas – do chamado “Centrão” – formam um grupo de cerca de 140 deputados.