Confira na íntegra a matéria do jornal Estado de São Paulo:
Passada a primeira etapa da reforma ministerial, em que o foco da presidente Dilma Rousseff foi cuidar do PT e vincular áreas estratégicas do seu governo à campanha para a reeleição, a próxima etapa terá por objetivo amarrar o Nordeste ao governo. Todas as trocas aguardadas serão feitas para mover peças nordestinas no tabuleiro da Esplanada e tentar solucionar problemas regionais que ameaçam o protagonismo do PT na região, que foi fundamental para a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2006 e para a vitória de Dilma em 2010.
Na lista de nordestinos que devem ir para a equipe de Dilma estão o senador Vital do Rêgo, do PMDB da Paraíba, ligado ao presidente do Senado, Renan Calheiros (AL); Benito Gama, baiano, presidente em exercício do PTB; e Alexandre Macedo, secretário executivo a ser indicado pelo atual ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro (PP-PI), para ficar em seu lugar. O ministro interino da Integração Nacional, Francisco Teixeira, ligado ao governador do Ceará, Cid Gomes (PROS), também deverá ser confirmado no cargo.
A preocupação com o Nordeste se deve ao fato de o favoritismo da presidente na região estar sofrendo uma série de ameaças admitidas pelos marqueteiros da campanha de Dilma. Em setembro, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, rompeu com o governo. Ele é candidato do PSB à Presidência. A oposição avançou também na Bahia, no Ceará e em Sergipe.
O Nordeste tem 38,2 milhões de eleitores, o que representa 27,1% dos votantes no País, ficando atrás apenas do Sudeste, com 60,9 milhões (43,2%). A região foi fundamental para a vitória da presidente em 2010. Dos seis Estados em que ela foi mais votada no primeiro turno, cinco eram do Nordeste: Maranhão, Piauí, Ceará, Bahia e Pernambuco.
Para o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), o favoritismo do PT na região diminui neste ano porque a conjuntura política é diversa de eleições anteriores. “Dilma perde força neste ano no Nordeste ao considerarmos que há mudanças significativas no cenário político nos Estados mais populosos: Bahia, Ceará e Pernambuco.”
Nogueira também avalia que o Nordeste se tornou muito importante na disputa eleitoral e na preocupação do governo explicitada na reforma ministerial não só porque tem o segundo eleitorado do País, mas também porque as estruturas partidárias hoje são ocupadas por nordestinos.
Como é interesse do governo manter os partidos aliados na coligação que vai apoiar a reeleição de Dilma, a tendência é que para fortalecer as legendas o governo dê mais força à região.
“Acho que o carinho da presidente pelo Nordeste decorre muito mais da importância dos políticos da região na estrutura partidária. Além das direções partidárias, sempre há nordestinos nos cargos de líder dos partidos. E, no último ano e nesse, tanto o presidente da Câmara quanto o do Senado são do Nordeste”, disse ele. “Isso é bom. Mas também aumenta nossa responsabilidade com a região, que é carente de recursos e investimentos.”
Um dos principais líderes do movimento que tenta tirar o PT do poder na Bahia, o ex-deputado e ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) concordou com Nogueira. Para ele, a valorização que Dilma promete dar ao Nordeste se deve muito à força que a região tem nos partidos. E uma forma de atrair os partidos para seu centro de gravidade é prestigiá-los com cargos no governo. “O governo precisa dos políticos nordestinos. Não há como governar só com os de outras regiões”, disse Geddel.
Oposição. A oposição também tem avaliação semelhante sobre as dificuldades do PT no Nordeste. “A região já não oferece o conforto eleitoral para o PT. Hoje, temos a vitória de ACM Neto em Salvador, o maior colégio eleitoral do Nordeste, a saída de Eduardo Campos do governo, o que fez o eleitor de Pernambuco mudar de lado, a certeza da vitória da oposição em Sergipe e um forte racha no Ceará”, disse ao Estado o presidente do oposicionista DEM, senador José Agripino (RN). “Ao se voltar para o Nordeste, a presidente Dilma Rousseff tenta se blindar na região, porque sabe que jamais vai repetir a votação que teve ali em 2010.”
Para Agripino, até armas eleitorais importantes já não são garantia de voto para o governo. “O Bolsa Família deu o que tinha de dar. Não acredito mais que o eleitor vai cair na conversa de que se outro vencer ele perderá o benefício. Porque está claro que o Bolsa Família não só será mantido, como também será ampliado, com melhorias que o PT não fez.”