Assédio Sexual

Juiz diz que médium João de Deus chefiava quadrilha

O juiz Liciomar Fernandes da Silva, que determinou a prisão de João de Deus por posse ilegal de arma de fogo, na sexta-feira, afirmou que as investigações apontam que o médium “chefia uma organização criminosa que atua principalmente na cidade de Abadiânia”, em Goiás. O investigado é acusado de abuso sexual por centenas de mulheres que o procuraram para tratamento espiritual, sendo indiciado por um desses casos. João de Deus, que completou uma semana na cadeia, nega os crimes. Por meio de nota, a defesa do médium afirmou que “juiz fez uma afirmação grave e sem qualquer base empírica. Essa é a verdade”.

O magistrado autorizou buscas em cinco endereços relacionados ao médium. Quatro dos mandados foram cumpridos em Abadiânia, onde fica a Casa Dom Inácio de Loyola, local dos atendimentos espirituais e onde teriam ocorrido os abusos –, e um deles em Itapaci, na região Norte de Goiás. Na busca realizada na sexta-feira, a Polícia Civil encontrou pedras que estão em análise para saber se são esmeraldas, uma arma de fogo, medicamentos e uma mala com R$ 1,2 milhão em dinheiro na casa do médium. Em dirigências anteriores, outros R$ 400 mil em moeda nacional e estrangeiras, além de armas, também na casa dele, o que motivou o pedido de prisão, concedido pelo magistrado.

No fim de semana, a Superintendência de Vigilância em Saúde de Goiás (Suvisa) interditou o laboratório da farmácia que funciona na Casa Dom Inácio de Loyola. O órgão informou que a farmácia do local produzia medicamentos em escala industrial, atividade para a qual não tinha autorização. Relatório divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO) diz que a interdição atinge somente o laboratório, permitindo as vendas dos medicamentos. O órgão esclareceu que a farmácia tem alvará para produzir os remédios, mas não na escala em que estavam sendo feitos. O volume de produção e de venda não foi informado.

Críticas – A defesa de João de Deus, que nega as acusações de crimes sexuais, criticou as novas buscas e nova ordem de prisão preventiva emitidas na sexta-feira. “A nova busca e apreensão foi determinada com base em denúncia anônima e foi genérica, o que é inadmissível”, afirmou o advogado Alberto Toron. O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) levantou que há 255 vítimas em potencial. As mulheres que procuraram o órgão para denunciara os abusos teriam entre 9 e 67 anos nas datas dos crimes. Desses casos, o órgão acredita que 112 prescreveram.

Os promotores pretendem ouvir João de Deus ainda esta semana e denunciá-lo em seguida. Junto com o inquérito já fechado pela Polícia Civil, o órgão deve juntar outros casos recentes, ainda deste ano. João de Deus teve a prisão decretada em 14 de dezembro, a pedido da Polícia Civil e do Ministério Público Estadual de Goiás, que passaram a receber vários relatos de abuso sexual durante tratamento espiritual após a coreógrafa holandesa Zahira Leeneke Maus denunciar o médium em programa de TV.

No dia 16, ele se entregou à polícia em uma estrada de terra em Abadiânia. João de Deus prestou depoimento em seguida, durante três horas, e afirmou à Polícia Civil que, antes de as denúncias virem à tona, foi ameaçado por um homem, por meio de uma ligação de celular. Além disso, negou os crimes e que tenha movimentado R$ 35 milhões nos dias anteriores à prisão.

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