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Javier Milei, Patricia Bullrich e Sergio Massa: conheça os três favoritos nas eleições presidenciais da Argentina

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Cinco candidatos disputam o primeiro turno das eleições da Argentina neste domingo (22). Em agosto, houve as primárias, que são obrigatórias para todas as coligações. Um dos objetivos dessa votação é tirar do pleito os candidatos nanicos e manter só os que realmente têm chances. Além disso, as primárias são consideradas uma espécie de ensaio para o que deve acontecer no primeiro turno. O resultado deste ano foi quase um empate triplo:

Javier Milei, deputado federal populista que se define como libertário, em primeiro, com 29,86%;

A coligação de Patricia Bullrich, ex-ministra de Segurança de Macri, em segundo com 28%;

A frente política de Sergio Massa, o atual ministro da Economia, em terceiro com 27,27%.

Veja abaixo o perfil dos três. 

Outros dois candidatos, Juan Schiaretti e Myriam Bregman, qualificaram-se para estar no primeiro turno, mas ficaram muito atrás dos três primeiros. 

Também serão eleitos 130 deputados (são 257 no total) e 24 senadores (são 72 no total), governadores de Buenos Aires e Entre Rios e o prefeito da cidade de Buenos Aires, que é uma cidade autônoma. 

É difícil prever o que acontecerá porque nas primárias os três candidatos ficaram muito próximos, afirma Federico Zapara, da Consultoria Escenarios. Ele diz que, geralmente, a participação dos eleitores no primeiro turno costuma ser maior –há projeções que pode haver até 5% a mais de votantes no domingo.

Segundo a cientista polícia Maria Esperanza Casullo, se aumentar a participação dos mais jovens, a tendência é que Milei seja favorecido, e se forem os mais velhos, a beneficiada é Bullrich. Massa deve ter muitos votos na região do entorno da cidade de Buenos Aires. 

Conheça os candidatos e saiba o que eles propõem

Montagem mostra os candidatos Sergio Massa, Patricia Bullrich e Javier Milei — Foto: Reuters 

O anarcocapitalista dos programas de TV – Javier Milei já afirmou que o Papa Francisco é um “esquerdista asqueroso”, que a moeda argentina não deveria valer “nem excremento”, que ele considera que a venda de órgãos humanos deveria ser um mercado como os outros e que, para ele, o Estado é um inimigo, e os impostos são um entrave para a liberdade”. O candidato diz frases chamativas com frequência porque foi assim que ele ficou famoso no país.

Antes de ser político, Milei foi goleiro das categorias de base do clube Chacarita, cantou em uma banda de rock chamada Everest (eles faziam covers dos Rolling Stones) e estudou economia. 

Depois de cursar a faculdade de economia e fazer uma pós, Milei trabalhou como professor universitário e deu consultoria para empresas. Segundo um perfil publicado na revista “Anfibia”, a partir do começo da década de 2010, ele passou a se interessar mais por teóricos ligados ao libertarismo. Ele já disse que é anarcocapitalista, mas que, por ora, como uma sociedade sem Estado é impraticável, contenta-se em ser minarquista –ou seja, adepto da ideologia de que o Estado se ocupe só de segurança e Justiça. 

No fim da década passada, começou a participar de programas de rádio e, depois, de mesas redondas de política na TV argentina. Ele conseguiu fama como o convidado “politicamente incorreto” que falava alto e eventualmente xingava os outros. Algumas de suas frases famosas foram ditas nesses programas de debates em que os convidados tentam chamar a atenção: ele afirmou que é professor de sexo tântrico e que conversava com o espírito de seu cachorro. 

Durante a pandemia de coronavírus, Milei participou de manifestações contra a quarentena. Então, em julho de 2021, ele fundou seu partido, o A Liberdade Avança, e se candidato a deputado federal pela cidade de Buenos Aires. A votação foi uma surpresa. A coligação dele teve 17% dos votos na Cidade de Buenos, uma porcentagem que ninguém esperava. Foi uma votação surpreendente para uma força política recém-formada.

Ele não teve destaque como deputado e, então, se lançou como candidato a presidente. 

Antes da votação nas primárias, as pesquisas apontavam que a chapa de Milei deveria ficar em terceiro lugar. Ele novamente foi uma surpresa nas votações, a frente dele terminou em primeiro, com 29,86% dos votos, e tornou-se o grande assunto das eleições deste ano. 

Na campanha ele fez eventos que juntaram multidões e empregou slogans fáceis de lembrar, como “a casta tem medo” e “viva a liberdade, caralho”. 

Propostas de Milei

  • Milei tem levado uma motosserra para seus atos de campanha. É uma metáfora para uma das suas principais bandeiras eleitorais, a diminuição do tamanho do Estado. Ele afirma que conseguiria uma redução equivalente a 15% do PIB argentino. Ele diz que vai reduzir o número de ministérios de 18 para 8. Acabariam, por exemplo, os ministérios de Cultura, de Ciência e de Meio Ambiente (em seu discurso Milei diz que o aquecimento global não é causado pela atividade humana).
  • Ele também já afirmou que pretende tirar fundos do Conicet, uma autarquia que financia pesquisa científica na Argentina.
  • Ele afirma ainda que vai acabar com o Banco Central.
  • Apesar de ele ter repetido diversas vezes que pretende dolarizar a economia, esse tema não apareceu no programa.
  • Ele promete reforma do setor elétrico, abertura comercial radical e privatizações de empresas com a YPF e Aerolíneas Argentinas.
  • Ele já afirmou também que, como é católico, é contrário à lei que descriminalizou o aborto no país e que tentaria revertê-la.

A candidata da lei e ordem

Patricia Bullrich, a candidata da direita tradicional nestas eleições presidenciais, começou a carreira política no campo ideológico oposto: durante a última ditadura militar do país, no fim dos anos 1970, ela foi do grupo de militantes de esquerda Montoneros. Ao longo dos anos, Bullrich, filha de uma família rica e tradicional da Argentina, foi se deslocando para a direita. Ela foi ministra do Trabalho e da Segurança Social do governo de Fernando de la Rua, uma gestão que se desintegrou com uma grave crise econômica em 2001. 

Anos mais tarde, Bullrich aliou-se a um político em ascensão que havia sido presidente do clube de futebol Boca Juniors e fundado o próprio partido, o Proposta Republicana (ou Pro): Maurício Macri. Nas eleições presidenciais de 2015, Macri, que já tinha sido prefeito da cidade de Buenos Aires, conseguiu tirar os peronistas do governo da Argentina e levou Bullrich para o Ministério da Segurança. Ela adotou uma postura de linha dura contra o crime, que é parte de seu discurso político até hoje. 

Macri se candidatou à reeleição, mas perdeu para Alberto Fernández. Agora, ele resolveu ficar de fora das eleições, e a direita tradicional teve uma disputa entre dois aliados: Bullrich ou o prefeito de Buenos Aires, Horacio Larreta. Ela venceu, mas desde então sua candidatura ficou sem rumo por um adversário de uma outra coligação.

Na Argentina, todas as coligações são obrigadas a fazer prévias, mesmo que haja um único candidato. Ao chegar no local de votação, o eleitor escolhe em qual coligação vai votar. Dentro de sua própria coligação, Bullrich foi vencedora, mas quem ficou em primeiro lugar foi Javier Milei, um político populista que se define como libertário que lançou seu próprio partido e que surpreendeu nas prévias. Desde então, Bullrich não teve bons momentos na campanha. Milei recebeu muito mais atenção do que ela. 

Patricia ataca o candidato da populista de direita dizendo que as ideias dele são perigosas e ruins: “Nem mesmo a equipe dele acredita em suas ideias. Não dá para dolarizar a economia sem dólares, para levar a Argentina para frente é preciso trabalhar com ideias claras”, disse ela em seu evento de encerramento de campanha. 

Propostas de Patricia Bullrich

  • Em seu plano econômico ela afirma que vai buscar zerar o déficit fiscal, dar autonomia ao Banco Central e adotar uma política cambial na qual tanto o peso como o dólar iriam valer.
  • Reforma trabalhista.
  • Mudar os regimes de penas para menores de idade que cometem crimes e alterar a idade em que as pessoas são consideradas imputáveis.
  • Criar uma prisão de segurança máxima com o nome de Cristina Kirchner.
  • Alterar as regras dos contrato dos funcionários públicos para igualar o estatuto ao regime dos empregados da iniciativa privada. 
  • Diminuir o número de ministérios pela metade e reduzir a quantidade de cargos políticos.

O centrista da esquerda – Sergio Massa começou a vida política em um partido conservador, a UCeDé. Na época, o peronismo (corrente política ligada ao ex-presidente Juan Domingo Perón) vivia uma fase de direita. A UCeDé era da base do governo, e Massa acabou migrando para o peronismo. Ele foi eleito deputado federal em 1999, e, pela primeira vez, ficou no Legislativo até ser nomeado para um cargo no governo federal –dessa vez, foi para o órgão responsável pelas aposentadorias na Argentina; anos mais tarde, seria o Ministério da Economia. 

Massa tornou-se um aliado do presidente Nestor Kirchner e permaneceu no cargo até o govenro de Cristina, quando ele tornou-se chefe de gabinete da nova presidente. No entanto os dois brigaram, e Massa tentou se afastar do kirchnerista e se apresentar como um peronismo independente –foi assim que ele se apresentou nas eleições presidenciais de 2015, quando perdeu para Maurício Macri.] 

Em 2019, Massa e Cristina voltaram a se aproximar. A esquerda fez uma grande aliança naquele ano: Alberto Fernández foi eleito presidente com Cristina Kirchner como vice, e Massa foi eleito deputado. Ele foi escolhido como presidente da Câmara dos Deputados até julho de 2022 –com dificuldade para conter a inflação, o governo decidiu nomear Massa como ministro da Economia. Ele ainda está no cargo, mesmo sendo, ao mesmo tempo, candidato à presidência.

Apesar de ser ligado historicamente aos Kirchner, ele é considerado um centrista. Carlos Pagni, um dos principais analistas políticos da Argentina, afirma que Massa é o que há de mais ortodoxo no atual grupo que está no governo. 

Propostas de Massa

  • Sergio Massa é o candidato do governo (a frente política chama-se União pela Pátria). Ele tem uma série de propostas sociais: recuperar o poder aquisitivo das famílias, passar a distribuir remédios de forma gratuita, incluir alguns direitos nas leis trabalhistas, fazer algumas alterações no ensino e criar uma política para mitigar as emissões de gases do efeito estufa e poluentes das indústrias de óleo e gás e mineradora.
  • Ele também diz que quer fortalecer empresas estatais.
  • A grande questão para Massa, no entanto, é como estabilizar a economia. Ele é o atual ministro da Economia, e a inflação chegou a 138% ao ano.
  • Na campanha, ele afirmou que a ideia é tentar fortalecer as exportações, que garantem ingresso de dólares. Isso permitira ao governo estabilizar a moeda argentina, o peso.
  • Além disso, a ideia é cortar alguns gastos. Por exemplo, ele propõe mudar os programas de assistência social por programas para aumentar o emprego formal e também uma reforma tributária para simplificar a arrecadação.

G1

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