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Heróis da fé na Paraíba – Por André Aguiar

Na nossa infância construímos em nossos pensamentos as imagens e referências de nossos heróis. Geralmente os nossos primeiros são os nossos pais, depois aqueles do cinema, da televisão, dos desenhos animados ou nos tempos atuais das diversas mídias existentes.

Com o tempo, essas quimeras que alimentava e davam até sustentáculos ao nosso mundo, vão se distanciando, vamos perdendo com isso, a nossa ideia de imortalidade, de fortaleza e força física, heróis antes invencíveis são agora descartáveis, vivemos assim a realidade da vida cotidiana e real.

Num mundo sem referências o ser humano se perdeu, vive atualmente em todo o mundo uma grande crise de identidade.

Alguns perfilam junto ao poeta dos caos que bradou: “Os meus heróis morreram de overdose”, (Cazuza) nós cristãos, entretanto, perfilamos com o poeta da esperança que disse; ”O meu herói morreu numa cruz entre dois ladrões” (Ariano Suassuna).

Como sabemos a nossa Paraíba é terra de valentes heróis, que se miraram no Herói da cruz, seguiram o caminho da Fé e do serviço ao próximo, deram suas vidas e carregaram as suas cruzes.

Começo pelo Padre Ibiapina, (José Antônio Pereira)  que nasceu na antiga aldeia de índios Tabajaras em 06 de agosto de 1808, logo cedo esse servo de Deus entrou para o seminário em Olinda, mas teve que interromper seus estudos por conta do falecimento de seu pai e ser obrigado a assumir a chefia da família.

Formou-se em Direito e depois foi Juiz e ainda deputado estadual, bem como professor de direito natural na Faculdade de Olinda. Mas depois de grandes decepções, abandonou a política e voltou ao seu escritório de advocacia.

Acontece, porém que, o seu chamado ao sacerdócio era latente e em março de 1853 foi ordenado Presbítero.

De povoado em povoado, de vila em vila, de cidade em cidade, o Padre Ibiapina com seu eloquente dom da palavra e sua inflamada fé e caridade, começou a converter muitos fiéis.

Responsável pela construção de inúmeros asilos, orfanatos, hospitais e igrejas, fundou as famosas Casas de Caridade, que acolhiam meninas órfãs espalhadas pelos estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.

Mas foi na seca de 1878, que em regime de mutirão, no qual foi percussor, construiu muitos açudes e ainda ensinou técnicas agrícolas aos sertanejos, atuação que inspirou no Nordeste o Padre Cícero.

Hoje um grande número de fiéis anuncia sua santidade e dão testemunho de milagres, curas e livramentos atribuídos ao Padre Mestre que faleceu em 19 de fevereiro de 1883, na cidade de Arara – PB.

Lembro com carinho e conhecido como o Pai dos pobres o Padre José Coutinho, ou simplesmente o Padre Zé, que nasceu na cidade de Esperança–PB em 18 de novembro de 1887, dedicando sua vida inteiramente à caridade aos pobres.

Fundou em 1935 um abrigo que viria a ser o Instituto São José, onde acolhia os mais necessitados e em consequência disso fundou também o Hospital Padre Zé em 1965.

Ambos funcionam até os dias atuais, prestando um relevante e importante serviço de assistência social e de saúde, notadamente na Capital do Estado.

O Padre Zé faleceu em novembro de 1973 e até hoje os seus atos de heroísmo são ouvidos e testemunhados, mantém-se viva assim o seu espírito de caridade nos frutos por ele semeados.

Não poderia esquecer-se do homem e herói de Fé que ensinou a Paraíba a ler que foi o Padre Rolim, nascido em agosto de 1800, na cidade de Cajazeiras-PB.

O herói da educação da Paraíba deu início as suas atividades na escolinha da serraria, a partir dali, mesmo com toda precariedade das instalações, ia crescendo em números de alunos em função ao alto nível do ensino que habilitava seus discípulos a ingressarem no curso superior.

Parafraseando o historiador Celso Mariz: “A sua casa de ensino se fazia à proporção que chegavam os novos discípulos. Cada aluno esperava por seu teto, embora já encontrasse o seu livro .” (Através do Sertão – 1910).

Em 1843, a atividade do padre Rolim já repercutia em quase toda região sertaneja e nos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco levando-o a transformar seu estabelecimento de ensino em colégio de instrução secundária. Era o primeiro colégio da Paraíba.

Em torno do colégio, foi crescendo o povoado, com grande crescimento que, em menos de cinqüenta anos, passou de simples povoado à condição de Vila, sede de comarca e cidade. Por isso que Padre Rolim é considerado o fundador de Cajazeiras, pois foi a sua obra que alavancou o surgimento da cidade.

A Padre Rolim faleceu no dia 16  de setembro de 1899. Conta-se que em função do rigor da seca, o seu corpo ficou mais de 48 horas para ser enterrado e apesar desse fato não chegou a exalar mal cheiro. A população de Cajazeiras, já lhe atribuía a virtude de santidade por sua reconhecida humildade em seus hábitos. Propagou-se rapidamente que ele morrera em ” odor de santidade “. Relembravam que ele se abstinha de comer carne em suas refeições, alimentando-se, apenas, de leite, frutas e biscoito. Ao longo de 74 anos, jamais dormira em cama ou rede, preferindo utilizar, como leito, duas caixas de madeira.

Trago na memória ainda o Dom Vital (Vital Maria Gonçalves de Oliveira) que nasceu em Pedras de Fogo no dia 27 de novembro de 1844.

Preso por defender os princípios Cristãos, fez eclodir o conflito entre a Igreja e o Império, que ficou conhecido como “Questão Religiosa”. Com ela, foram dados os primeiros passos para a correção de graves obstáculos ao florescimento da vida da Igreja no Brasil. Foi o início de um novo despertar.

Após a sua prisão os Jesuítas foram expulsos da Paraíba com Dom Vital mesmo estando preso, e sendo muito amado pelos fiéis e por outros bispos, conseguiu chamar a atenção do Papa Pio IX que o chamava de “Mio Caro Olinda”.

Regressou à Diocese de Olinda em 6 de outubro de 1876 e foi recebido triunfalmente. Iniciou, com entusiasmo, suas atividades pastorais. No entanto, agravou-se seu estado de saúde e embarcou para a Europa, em busca de tratamento. Escreveu ao Papa, com sua renúncia à diocese, sem resultado. A medicina não conseguiu descobrir a enfermidade, que provocou misteriosos sintomas, chegando a falecer em Paris no ano de 1878.

A história recente fez brotar entre os membros da Igreja heróis anônimos no início dos anos 1980, quando a Irmã Margarida trouxe para a Paraíba o Movimento da Renovação Carismática Católica.

A querida Irmã Margarida fazia parte da Congregação das Religiosas da Sagrada Família de Santa Emília de Rodat, que desde muito cedo dedicou sua vida a educação, notadamente no curso pedagógico do Colégio Nossa Senhora das Neves na década de 1970.

Mulher de profunda oração e com seu habitual múnus para ensinar, encontrou no jeito novo de evangelizar na RCC a sua verdadeira vocação.

Com efeito, criou o primeiro grupo de oração carismático da Paraíba nas instalações do Colégio das Neves onde desenvolvia com alegria própria do Espírito Santo, a Missão de Evangelizar.

A Irmã Margarida não estava sozinha nessa missão, pois lá um verdadeiro exército de heróis que como ela estavam dispostos a assumir esse jeito novo, embora utilizado desde os primórdios do Cristianismo, quais sejam o uso dos Carismas. Dentre eles destaco, Gerôncio Vilar, D. Creuza Araújo e D. Alba Ramalho, todos hoje heróis que continuam intercedendo pela Igreja da Paraíba, sendo que agora lá do mais alto dos Céus.

Atualmente inúmeros grupos de oração estão espalhados por todo o estado da Paraíba, inúmeras Comunidades Novas nasceram e permanecem frutificando novos heróis da Fé.

Por André Aguiar, em 17 de janeiro de 2021.

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