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Governo terá de se esforçar para manter PIB de 2% em 2014
Se tudo der certo, o governo Dilma vai emplacar em 2014 um crescimento de 2% na economia
A expansão média da economia no triênio da presidente Dilma Rousseff é de 2% ao ano, abaixo do ritmo mundial, de 3,3%. Em 2014, a economia brasileira vai encontrar pela frente uma circunstância externa predominante que influenciará fortemente todas as demais variáveis. Essa força maior é a decisão do governo dos Estados Unidos de retirar os estímulos monetários bilionários que vinha dando à economia desde a crise de 2008. Quem vai manejar a retirada é a economista Janet Yellen, a nova presidente do Fed, o banco central americano, cargo que ela assume em substituição a Ben Bernanke. Nenhum país – nem o Brasil, apesar da retórica ufanista oficial – ficará imune às grandes mudanças de rumo da economia americana. Enquanto duraram os estímulos bilionários, os juros americanos foram mantidos próximo de zero e não valia a pena investir nos papéis emitidos pelos Estados Unidos. A rentabilidade estava em países emergentes. O Brasil tornou-se um destino preferencial de investimentos mundiais. Com a mudança de curso, os juros americanos vão subir e remunerar bem melhor os investimentos. Juros mais altos vão se combinar de novo com a segurança oferecida pelos papéis americanos (os Estados Unidos nunca declararam uma moratória em sua história), e não vai ser fácil competir com eles por investimentos. Esse será o cenário dominante em 2014, e as aeronaves econômicas vão ter de se adequar a essas condições atmosféricas.
Andrew Harrer/Bloomberg
Para o Brasil será desastroso se o Fed agir de forma abrupta. As reservas em dólares se evaporarão em pouco tempo. Mas o país tem 375 bilhões de dólares em reservas e ainda assim está fragilizado? Sem dúvida. Mesmo antes do anúncio do fim dos estímulos pelo Fed, o Brasil torrou o equivalente a parte substancial das reservas (cerca de 100 bilhões) na tentativa de não deixar o preço do dólar disparar em relação ao real. “As mudanças na política monetária americana terão o efeito de um gatilho – e não de causa primária – de mais problemas na economia brasileira”, diz Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados. Temos de torcer para que a retirada dos estímulos à economia americana seja o mais gradual possível. Nesse cenário mais ameno, em condições de atuar sem estar em uma emergência cambial, o Brasil poderá até fazer do limão uma limonada.
Há sinais claros de retomada de ritmo das economias dos Estados Unidos e dos países europeus. Esse reaquecimento combinado dos dois lados do Atlântico é uma boa notícia para os exportadores brasileiros. Nesse cenário, a inevitável depreciação do real acaba sendo um fator favorável de competitividade para os exportadores brasileiros. Dessa forma, a mudança de rumos da poderosa economia americana teria sobre o avião brasileiro um efeito neutro. Isso é bom.
Seria ainda melhor se o Brasil estivesse mais equilibrado internamente. Não está. A deterioração das contas públicas, um movimento contínuo desde 2011, deve se acentuar em 2014, como ocorre em todo ano eleitoral. “Existem medidas já tomadas, de desoneração fiscal e de aumento de gastos, que impedem que o governo ponha em prática o discurso de uma política fiscal menos expansionista”, diz Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco. O voo rasante se explica pelo peso do Estado na economia. As turbinas de quem trabalha e paga impostos não suportam mais tanta carga tributária. Nessa situação, o Brasil cresce pouco e, portanto, mesmo com impostos excessivos, a arrecadação tende a baixar. A expectativa é que a diferença entre as receitas e as despesas antes de serem pagos os juros da dívida (o superávit primário) seja de apenas 1,3% do PIB, abaixo do 1,8% de 2013. São os dois piores resultados em uma década – e insuficientes para impedir que a dívida total em relação ao PIB volte a subir. Nosso avião, que já resfolega para se manter no ar, pode começar a preocupar os investidores, que, assim, cobrariam uma taxa de risco maior, encarecendo os empréstimos para o governo e as empresas brasileiras. “O maior desafio do governo será reverter a crise de confiança que afeta as decisões de empresas e consumidores”, diz o economista Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central, da Projeta Consultoria. A fragilização dos fundamentos reduz o espaço para a melhora das expectativas. “Um novo plano de ação é necessário para que o Brasil volte a crescer acima de 3% ao ano. Isso envolve não só um comprometimento fiscal e monetário como político para que reformas sejam votadas e aprovadas”, diz Will Landers, gestor em investimentos para a América Latina da BlackRock, a maior empresa de administração de recursos do mundo.
Para passageiros que já sofreram com essas fragilidades no passado, a economia brasileira parece ainda mais arriscada. Crises de confiança se instalam rapidamente. Custa caro e é demorado reverter as expectativas. A boa vontade com o Brasil é imensa. Somos um país pacífico, unificado pelo idioma, sem disputas étnicas ou religiosas, com uma população que começa a ter oportunidades iguais de educação e ascensão social. É quase tudo de que um investidor precisa para se convencer a colocar aqui suas economias. O governo tem de fazer a sua parte – como o fez em 2013, com o sucesso da privatização de alguns aeroportos e estradas. Por essa razão, mesmo em ano eleitoral, o Brasil pode sinalizar para o mundo que podemos empinar o nariz do nosso avião e subir para patamares bem mais altos. Diz Monica Baumgarten de Bolle, diretora do Instituto de Estudos de Política Econômica – Casa das Garças e sócia da Galanto Consultoria: “Se as políticas econômicas erráticas forem corrigidas e a agenda de reformas retomada, o Brasil poderá voar mais alto”.
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