"Isso pode Arnaldo?"

Globo tem participação indireta em filme com presidente ‘morto’

No sábado (16), as redes sociais entraram em ebulição por causa de uma imagem controversa. Jair Bolsonaro aparece usando a faixa presidencial caído no chão, ao lado de uma moto, após aparentemente ser alvejado enquanto pilotava. Há sangue no pescoço e na camisa.

Trata-se de um sósia representando o presidente da República no filme ‘A Fúria’, do diretor Ruy Guerra. A sequência do atentado em uma motociata, com sangue cenográfico, teve repercussão bombástica nos perfis bolsonaristas.

Vários aliados políticos e eleitores acusaram a Globo de ser responsável pela gravação, que teria sido realizada em seus estúdios, no Rio.

Tentaram matar Bolsonaro uma vez e não conseguiram, agora, até ensaiam como fazer”, escreveu no Facebook o filho Zero Um, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). “Provavelmente algumas emissoras e jornais devem aplaudir tal manifestação cruzando os dedos.”

Essa polêmica cinematográfica lembra o atentado a faca contra o então candidato Bolsonaro em setembro de 2018, em um evento de campanha em Juiz de Fora (MG).

A emissora da família Marinho divulgou um comunicado para rebater as acusações recheadas de ódio político. “A Globo desmente que pertençam a produções suas – seja para canal aberto, canais fechados próprios ou Globoplay – vídeo e fotos que estão circulando nas redes sociais de gravação de obra ficcional mostrando um atentado ao presidente da República”, diz o trecho inicial.

“A Globo não tem nenhuma série, novela ou programa com esse conteúdo. Segundo foi informada, a gravação seria de um filme do cineasta Ruy Guerra chamado “A Fúria”, que pretende fechar a trilogia iniciada com “Os Fuzis”, de 1964, e “A Queda”, de 1976.”

A nota de esclarecimento revela que o Canal Brasil, que faz parte dos canais Globo na TV paga, possui 3,61% nos direitos patrimoniais do filme. “Embora tenha participação acionária no Canal Brasil, a Globo não interfere na gestão e nos conteúdos do canal”, explica o texto da assessoria.

Ainda de acordo com o informe, a Globo e o Canal Brasil não sabiam da cena porque “como é praxe em casos de cineastas consagrados”, não há supervisão das produções. A emissora vista como maior inimiga na mídia por Bolsonaro se exime de qualquer responsabilidade no caso.

Ruy Guerra, 90 anos, se tornou um dos mais respeitados cineastas do País. Entre seus filmes há clássicos como ‘Os Cafajestes’ (1962), ‘Os Fuzis’ (1964, que deu a ele o Urso de Prata em Berlim por Melhor Direção) e ‘Ópera do Malandro’ (1986). Foi marido da cantora Nara Leão e da atriz Claudia Ohana.

Em setembro de 2021, em entrevista a ‘O Globo’, o diretor se queixou da realidade política do Brasil sob Bolsonaro. “A extrema direita está promovendo um assassinato cultural. Quando eu cheguei aqui, o Brasil era o País do futuro. Nunca imaginei que o futuro seria uma sociedade miliciana”, disse Guerra, nascido em Moçambique, na África.

O vazamento da cena proporcionou valiosa publicidade prévia ao filme ‘A Queda’, ainda sem data de lançamento. Por outro lado, a produção poderá sofrer questionamentos na Justiça e boicotes. A liberdade de expressão é um princípio inegociável na democracia, porém, quem se sente atingido por uma obra tem o direito de contestá-la. (Terra)

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