No mês de novembro, o coco verde está do jeito que o povo gosta. Carnudo e com bastante água, ele alcança neste período as qualidades mais apreciadas pelo consumidor final, a exemplo do que se vê nos quiosques da praia e nas gôndolas do supermercado. Segue imponente pelo menos até março, quando os termômetros registram aquele calor responsável por alavancar o interesse por um produto saudável e natural.
Que o diga a Região Nordeste, onde esse fruto redondo e pesado não perde o posto de símbolo tropical, associado à praia, turismo e lazer. “Mas é o fato de existir um maior conhecimento em torno dos benefícios da sua água que fez a demanda subir de uns anos pra cá. Alavancou, inclusive, a produção do chamadoCoqueiro Anão, que origina um fruto com líquido mais propício ao consumo, em áreas não tradicionais de cultivo, como o Sudeste”, explica o pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros de Aracaju, Humberto Rollemberg, que, mês passado, tratou o assunto na 26ª Agrinordeste, em Olinda.
Ainda segundo o especialista, vale lembrar que as variedades de coqueiro mais exploradas no Brasil são mesmo Gigante e Anão. Embora sejam da mesma espécie, o primeiro origina um tipo de coco mais aproveitado pela indústria de derivados, como leite e óleo de coco e coco ralado. Já o segundo fornece um fruto consumido in natura ou para envase. Atrativos que justificam o que diz uma pesquisa em curso no Setor de Prospecção e Avaliação de Tecnologias (SPAT), da Embrapa Tabuleiros Costeiros, ao confirmar a tendência de substituição do tipo Gigante pelo Anão, a partir de análises feitas com pessoas do segmento.
No panorama atual, segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO/ONU), o Brasil é o quarto maior produtor mundial de coco verde, com quase dois bilhões de unidades produzidas por ano. “O Nordeste segue com grande participação em áreas do Semi-árido nordestino, como Petrolina e Juazeiro do Norte, mas sem esquecer a alta produtividade doEspírito Santo”, aponta Rollemberg.
Um superalimento
No calor, uma pessoa chega a perder até dois litros de água através do suor. Com a transpiração, vai embora uma série de nutrientes que podem muito bem voltar ao corpo através da água turva e levemente adocicada do coco, rica em sais minerais e pobre em açúcar. “Inclui sódio, potássio, cálcio, magnésio, ferro, zinco, cobre e vitaminas do complexo B. Por tudo isso, é também indicado para quadros de vômito e diarreia”, explica a nutricionista Isis Graziela Rodrigues, que ainda acrescenta existir poder diurético e benefícios para o intestino.
Ainda assim, a presença de potássio exige moderação por pessoas com deficiência renal, bem como os diabéticos devem ficar atentos à quantidade de carboidratos. O consumo diário, segundo especialistas, deve ser calculado dentro do plano alimentar de quem tem essas patologias. “E não se esqueça da polpa. Ela é rica em gorduras do bem, como os ácidos graxos do tipo láurico, que são metabolizados no fígado e se transformam em energia. Esse ácido também é antioxidante, protege as células, além de ser bactericida e fungicida”, acrescenta a nutricionista. Na hora do lanche, ela recomenda cortar algumas lâminas, polvilhar canela e levar ao forno por cinco minutos.
E por falar em gordura, ela também se estende aos subprodutos originados da versão seca. O mais popular entre eles é o leite brancoe viscoso, extraído da polpa já madura. Na gastronomia, o líquido surge como alternativa aos intolerantes à lactose, alérgicos à proteína do leite de vaca e até veganos. Já o óleo de coco, que surfa na onda da vida saudável, é formado por triglicerídeos de cadeia média, que, em consumo orientado, atua no sistema imunológico e regula os níveis de colesterol no sangue. Por sua vez, o açúcar decoco tem um baixo índice glicêmico, é rico em vitaminas e minerais, mas não deixa de ter calorias, como todos os itens listados até aqui.
O coco e sua cozinha fantástica e versátil
Por mais tropical que seja, esse não é um fruto típico brasileiro. A história conta que o coqueiro é típico dos países da Ásia, sendo introduzido no litoral brasileiro por mãos portuguesas, a partir de 1553. Segundo pesquisadores, o coco era consumido inicialmente por índios e negros, que aproveitavam a água e a polpa crua. Mas foi com a influência portuguesa que eles passaram a utilizar o ingrediente como item indispensável de algumas receitas.
Não à toa, doces e outros pratos servidos na Semana Santa têm o dedinho lusitano por trás deles. Hoje, o que se vê é um verdadeiro banquete de opções feitos com os seus produtos derivados. Leia-se moqueca, cocada, bolo, pudim, manjar e tantos outros de contexto afetivo e apelo sentimental. Sem esquecer que, por conta da sua própria origem, esse também é um protagonista na cozinhaindiana e tailandesa. “Ao saber que o coco vem especificamente da região de Goa, no Sul da Índia, surgiu o meu interesse de pesquisa sobre esse produto versátil para pratos doces e salgados”, diz o chef Leandro Ricardo, com base no livro “Arqueologias Culinárias da Índia”.
No cardápio baseado nesses estudos, o chef lembra receitas como camarão no coco verde e o carpaccio com lâminas fininhas da polpa, que foram preparadas ainda em 1995, no tempo do extinto restaurante Navegador. “As referências são muitas. Na Ásia eles fazem muito arroz cozinhado com o leite, enquanto na Polinésia Francesa é comum haver uma espécie de ceviche em que o peixe cru, ao invés de ser marinado no limão, também recebe o leite de coco”, aponta Leandro.