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Copa distrai comunidade indígena afetada por suicídios de jovens no MS

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Passeando pela Aldeia Sassoró horas antes de um jogo da seleção, a comunidade se parece com muitas outras do Brasil em tempos de Copa. Compõem o cenário o verde e amarelo espalhado em formas de bandeiras e crianças agitadas, carregando a famosa camisa dos pentacampeões. No entanto, a animação pontual deste povoado indígena no Mato Grosso do Sul aparece quase como um sonho que ameniza uma realidade trágica. Ali, uma onda de suicídios entre jovens desconcerta famílias e líderes dos guarani-kaiowá.

Em dia de seleção em campo, a maioria dos 4500 moradores da aldeia se mobiliza e sorri diante da televisão. Mas a febre de bola não arrebata todos por ali. Os semblantes das mães que perderam seus filhos ainda acusam um misto de dor e surpresa. Celia Samudio é uma delas. A funcionária de uma escola local teve a vida sacudida por dois suicídios em casa, segundo ela, sem explicação aparente. O último deles foi o de Claudenir, 15 anos, em abril passado. Agora, a missão da índia guarani-kaiowá é levar os dois menores da família para caminhos mais amenos até a idade adulta.

Este é o mesmo dilema de Claudineia Vilalva, que chorou a morte do filho Claudinei e agora tem a missão de orientar outros três mais novos em direção a algum entusiasmo de vida. As particularidades de cada história de suicídio são conhecidas na vizinhança, e a maioria envolve enforcamento.

Tudo isso acontece nos limites de Tacuru, a segunda cidade brasileira a adotar oficialmente o guarani como língua oficial. A primeira foi São Gabriel da Cacheira, no extremo norte do Amazonas. No município sul-mato-grossense, uma lei de 2010 conferiu ao idioma a presença em espaços de prestação de serviços públicos básicos na área de saúde, por exemplo.

Na aldeia de 700 alqueires, apesar da simplicidade de algumas residências, os índios contam com energia elétrica e transporte. Em breve terão à disposição banheiros químicos. De longe dá para avistar a vizinha Iguatemi, onde a comunidade Pyelito Kue vive um outro tipo de drama, com disputa de terra pautada por balas de revólver. Já em Sassoró, o clima é de paz, apesar da batalha para se entender os suicídios. No entanto, os moradores dizem que a situação já foi bem pior, com padrões de epidemia. E a falta de perspectiva profissional é identificada como possível explicação para o comportamento.

“Antes de a gente assumir era muito, quase dois ou três jovens por semana. Mas no ano passado diminuiu bastante, este ano não aconteceu ainda [tirando o caso de Claudenir]. A gente está incentivando o jovem para um caminho diferente”, diz Eliseu Martins, diretor de uma escola municipal dentro da aldeia e um dos líderes da comunidade.

“Na verdade isso não está resolvido. A minha preocupação em particular é com isso. Tem muito adolescente na faixa de 12, 13, 15 anos se suicidando. Isso é um problema sério”, endossa Ansilo Castelão, vereador de Tacuru saído da comunidade de Sassoró. “A gente precisa contratar algum psicólogo para ver essa questão”, acrescenta o político.

Eliseu Martins dirige uma escola dentro de Sassoró que atende ao todo 1808 alunos da aldeia, de crianças pequenas até o ensino médio. Formado em Geografia com sacrifício de viagens diárias de 300 km (ida e volta), durante quatro anos, o educador confia na influência do ensino para plantar esperança na cabeças dos jovens locais.

“A responsabilidade está na nossa mão. O futuro das nossas crianças está na escola. Então a gente tem que trabalhar com dedicação a cada família, a cada criança”, diz.

Outras duas lideranças trabalham pela aldeia em Tacuru. O Capitão Osmar ocupa o papel que em outras comunidades indígenas seria o de um cacique. Já Ansilo Castelão representa Sassoró na Câmara Municipal, na condição de vereador, eleito com 218 votos.

uol.com

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