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Centro Histórico de João Pessoa é único das Américas em pesquisa internacional
A relação do Centro de João Pessoa e sua população vai ser parte do tema de um simpósio internacional sobre Centros Urbanos na universidade de Northumbria, na cidade de Newcastle, Inglaterra, nos dias 11 e 12 de setembro. A participação é uma parceria do programa de pós-graduação de Arquitetura e Urbanismo (PPGau) da UFPB e a universidade inglesa. Além de João Pessoa, os centros de Newcastle, Pretória, na África do Sul e Sydney na Austrália.
Os professores Geovany Silva e Carlos Nome, ambos do PPGau e responsáveis pelo Laboratório de Modelos + Prototipagem (LM+P), foram os autores do projeto que vinculou a UFPB com a universidade de Northumbria. Ambos pesquisam o Centro Histórico de João Pessoa e suas características com o objetivo de desenvolver mecanismos para desenvolver novamente a região.
“É uma parceria de cinco universidades e ficou definido o primeiro encontro em setembro, em Newcastle. Paralelamente a esse convênio, tínhamos pesquisas nessa área. A relação do empobrecimento do Centro, perdendo pessoas, espaços. Estudamos toda lógica urbana de João Pessoa, que é diferente da lógica do inglês por exemplo, que tem centros mais fortes”, explicou.
Após o simpósio na Inglaterra, são previstos outros quatro encontros, um a cada ano, sendo o último no ano de 2022, a ser realizado em João Pessoa. Para Geovany Silva, o grande desafio é tornar o Centro habitável, fazer com que o fluxo urbano volte a passar pela parte histórica da cidade.
“Temos espaço construído, temos infraestrutura, temos edifícios vazios. Potencializando a ocupação, a gente melhora a economia. Fazendo isso, nós conseguimos mudar completamente a dinâmica do Centro de João Pessoa, fazer algo que é adotado pelos europeus”, explicou o professor.
Geovany Silva conta que morou muito tempo em Lisboa, capital de Portugal, e que viu de perto a relação mantida entre os moradores e o Centro. Ele relata que o Centro lisboeta é muito mais comercial, com alto fluxo de pessoas, chegando a responder por 40% da economia da cidade, mas sem perder seu valor histórico e cultural.
“A economia urbana do Centro de Lisboa é muito mais forte. Por isso, você tem mais infraestrutura, você tem mais investimento, mais planejamento. Por exemplo, na Câmara Municipal de Lisboa, eles têm um planejamento definido para os próximos 20 anos. Você percebe que existe uma política de longo prazo que gira em torno do turismo”, explicou.
Embora a readequação favoreça uma nova ocupação dos centros, levando comércio e o aquecimento da economia, esse novo modelo, caso feito de maneira totalmente livre, traz consigo problemas sociais, como lembra Geovany. Ele conta que a essa remodelagem do Centro de Lisboa é creditada a piora na condição de vida de moradores antigos, a maioria de idosos e aposentados.
O aumento do fluxo no Centro da capital portuguesa elevou o valor de ocupação do solo e consequentemente penalizou moradores antigos, que viviam de aluguel. “O valor médio desse aluguel é praticamente o valor da aposentadoria. Muitos desses aposentados precisam de ajuda dos parentes para sobreviver. Além disso, existe uma pressão para esse pessoal sair, muitos imóveis são usados para aluguel por aplicativo, etc. Tem esse lado ruim”, comentou.
Por novas memórias – O professor Carlos Nome, também do PPGau e responsável juntamente com Geovany pelo convênio com a Northumbria, defende uma intervenção que permita que pessoas da nova geração criem memórias com o Centro Histórico, assim como seus antepassados criaram ao longo da ocupação urbana de João Pessoa. Ele conta que a nova geração não costuma circular ou consumir na região, por isso não criam memória afetiva, não geram vínculo com o Centro da capital paraibana.
“Pelo fato de ter um passado, uma memória, a gente impede que se construa uma nova memória, pela falta de vivência. Quando a gente fala de preservação do Centro Histórico, no sentido das formas tradicionais, a gente renega aquele espaço às novas gerações. Então essa reocupação passa por criar demandas para atender a uma nova geração”, explicou.
Ele destaca que o rigor dos órgãos de preservação impede que os prédios que integram o perímetro histórico de João Pessoa sejam devidamente readequados para atender uma nova forma de consumo. “Infelizmente tratam o Centro Histórico como um museu, colocam uma redoma imaginária e nada mais pode ser feito, impedindo a vivência por essas novas gerações”, destacou Nome.
Rigor e informalidade – Em contramão ao rigor imposto pelos órgãos de preservação do patrimônio histórico e artístico, os moradores do Centro, então tratado como esquecido, museu ou à margem do fluxo urbano, fazem suas próprias intervenções. Os professores do PPGau reclamam que muitos dos prédios tiveram suas estruturas alteradas para funcionamento de estabelecimentos comerciais sem nenhum tipo de acompanhamento profissional de preservação.
“O Centro está ‘acontecendo’, temos mecânicas funcionando em prédios históricos, temos a própria população intervindo no Centro. Ficamos nesse impasse por tratarem como intocável”, explicou Silva.
A medida tratada como intransigente pelos pesquisadores, engessa as ações e trabalhos da própria UFPB, no Centro de João Pessoa. “Se nós, enquanto pesquisadores, profissionais, não podemos intervir a partir de uma razoabilidade, de um embasamento técnico, somos impedidos legalmente, a população faz o que quer, sem uma intervenção ideal. É criando um rejeito, áreas que são rejeitadas”, comentou Carlos Nome.
Um bom exemplo usado pelos professores para mostrar que é possível urbanizar novamente os Centros Históricos sem perder o patrimônio histórico é o Porto Digital, feito do Recife. Para os dois pesquisadores é preciso defender que não seja apenas numa preservação, mas em uma resignificação do Centro Histórico.
“O primeiro passo é a gente pensar em uma zona experimental dentro do Centro. Lá em Recife houve um flexibilização. Existe uma readequação espacial e os órgãos precisam entender que em alguns casos vai ficar só a fachada”, completou Geovany Silva.
O Centro Histórico de João Pessoa foi delimitado a partir de um decreto municipal, n° 25.138/2004. Foram tombados 6.600 prédios históricos, que passaram a integrar o Centro Histórico. A área compreendida como Centro Histórico de João Pessoa tem cerca de quatro hectares e se estende por cinco bairros: Centro, Varadouro, Jaguaribe, Tambiá e Trincheiras.
G1/Pb