Política

CÁSSIO NÃO TEM VAGA PRA TODO MUNDO. É PROBLEMA

Cássio Cunha Lima

A porta do Paraíso é uma só. É única, desde que Deus criou o mundo em sete dias. Nem maior nem menor. Nunca foi diferente, aumente ou não a humanidade, porque não é tão fácil assim entrar no Céu: há filas e regras, e a porta é um verdadeiro filtro por onde só se passa espremido. É por isso que a vida é feita de prazeres e sacrifícios também, gozos e penitencias. Há até os que peregrinam pelos lugares santos do mundo na busca da salvação da alma e da remição dos pecados – da romaria da Penha a Roma, na Itália, Fátima, em Portugal, ou Santiago de Compostela entre Itália, França e Espanha, com seus oitocentos e oitenta e seis quilômetros de trilha, afora os pequenos santuários espalhados pelos quatro cantos do planeta e Jerusalém e Meca, no Oriente, berços de religiões monoteístas.

 

Cícero Lucena já fez várias vezes o longo percurso até Compostela. Ele tem muita fé e disposição para pagar pecados, porque sabe que a política não exercita a arte das virtudes e por causa dela os políticos chegam ao Paraíso e encontram a porta cerrada. Deus sabe o que pôs na Terra e previne-se. Dizem que São Pedro é o porteiro, um velho carrancudo exigente e chato que confere todos os prontuários, certamente lendo as digitais. Cícero tem medo dele que se pela. O velhinho acha que Cícero é chegado a heresias, só porque inventou Ruy Carneiro, uma serpentezinha que Cícero transformou em objeto de adoração. Como se sabe, ninguém chegará ao Céu adorando senão a Deus. Mas São Pedro compreenderá que Cícero terá pago seus pecados sem mais ir a Compostela. Basta o sofrimento profundo que purga pela traição de Ruy, o adorável ser, penitência que carregará no peito até o dia do juízo final. Bem feito, quem mandou Cícero inventar de adorar a homens?

 

LARGAS SÃO AS PORTAS DO INFERNO. São muitas e escancaradas, porque a humanidade e a política remetem pra lá pecadores em massa, e lá se entra sem fila ou filtro, de eito, de monte, uns atropelando os outros. Não há porteiro chato nem o benevolente, todos são iguais à beira dos fogaréus – é onde tem a maior democracia igualitária do universo, porque todos são nivelados apenas pelo pecado. Sejam muito cabeludos ou pouco cabeludos os pecados, ali se nivelam os pecadores. A regra de ingresso é simples, observado apenas o aspecto da excludência. Ou seja: quem não tem ingresso para o Paraíso, quem sobrou do Céu, ruma para o fogo ardente, com direito socialmente justo e isonômico ao azeite, passado na alma para que possa queimar em chamas.

 

Cássio, comparativamente, vive, agora, a situação de ser São Pedro a porta do Paraíso, aonde todos querem chegar em fita, esperançosos de encontrar um lugar de salvação. Só Cícero não pode chegar porque perdeu o lugar para Ruy, apesar de ter percorrido várias vezes os caminhos de Santiago de Compostela. Pelo visto, o pecado de Cícero foi grande mesmo. Foi cabeludo demais.

 

Mas outros pecadores sobrarão no reino de Cássio. Lá a porta é estreita e há fila e filtro. Ninguém entra de eito e aos montes, porque os lugares estão reservados aos que mostrem as digitais. Ele nem é velhinho nem carrancudo, mas sabe que o processo seletivo tem regras e exigências, entre as quais a de o interessado nunca ter (em tempo algum) blasfemado contra São Pedro. Cícero já blasfemou contra Cássio votando em Zé Maranhão, embora Cássio possa ter pecado contra Cícero votando em Ricardo Coutinho. Mas, a rigor,  São Pedro não peca, porque é o porteiro do Céu e está canonizado.

 

Pela mesma razão de Cícero (ou razão bem maior) Maranhão e Veneziano não chegam ao paraíso de Cássio, nem Wilson Santiago. Contraditoriamente, Manoel Júnior chega. Aguinaldinho pode chegar, Rômulo Gouveia pode redimir-se, após ter estagiado no purgatório de Ricardo Coutinho. De qualquer forma, tudo pode mudar. Embora a pressa não seja grande, Cássio precisa povoar seu paraíso, para que o excesso de contingente dos que sobram não vague perdido a busca de outro santo, ou do demônio. Há horas em que até São Pedro se preocupa com a quantidade de pecadores expulsos do Céu. O cão pode atraí-los com menos burocracia e mais facilidades. A carne humana é fraca.

Polêmica Paraíba

 

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