Brasil
Após condenação de Lula, partidos iniciam movimentos para eleições de 2018
Depois da condenação do ex-presidente pelo juiz Sérgio Moro, os partidos iniciam os movimentos para as próximas eleições.
A condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na última quarta-feira, antecipou as análises de cenários dos partidos para as eleições de 2018. Esquerda e direita, embora em plena articulação de bastidores, se esquivam a apontar saídas seguras para o próximo pleito de 2018. As controvérsias que envolvem os atuais líderes das pesquisas — o próprio Lula e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) — podem abrir caminho para nomes novos, que poderão surgir na complicada disputa à Presidência.
A possibilidade de Lula não participar da corrida dá fôlego aos outros partidos, que começam a costurar nomes que possam ter força para 2018, mas gera dúvidas no PT. O desafio do partido, se o principal representante de fato se tornar inelegível, é encontrar um nome para a disputa. O discurso da presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), é de que não há plano B, mas isso deve ser desconstruído ao longo dos próximos meses, acredita o coordenador de análise política da consultoria Prospectiva, Thiago Vidal. Caso o PT pretenda se manter entre as opções, precisa de tempo para construir um candidato alternativo a tempo de conquistar apoios. “Se Lula sair da disputa, o PT terá de fazer o que já devia ter começado há algum tempo: pensar em alternativas. Mas dificilmente fará isso de forma pública.”
Nesse cenário petista, entra o nome de Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, cotado por analistas e parlamentares, mas ainda uma dúvida no partido. Na capital paulista, Haddad foi eleito em 2012, mas ficou de fora do segundo turno em 2016. Petistas citam ainda o ex-ministro da Justiça e advogado da ex-presidente Dilma Rousseff, José Eduardo Cardozo, e Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul. Outro nome que tem sido citado nos bastidores para representar a esquerda, embora de forma mais tímida, é Jaques Wagner, que foi governador da Bahia e ministro da Casa Civil do governo Dilma.
“No fundo, a campanha vai ser em torno de Lula sendo transferidor de votos. O PT indicará um candidato com boa condição de desempenho, mas que talvez não chegue nem ao segundo turno. Ele conseguiu eleger Dilma no auge do sucesso, mas, da segunda vez, foi difícil”, avaliou o advogado Murillo de Aragão, cientista político e chefe da Arko Advice.
A outra opção do PT, caso Lula não possa se candidatar e o partido não queira um novo nome, é apoiar outro candidato da esquerda, como Ciro Gomes, opção mais forte do PDT, e montar uma coalizão de centro-esquerda. Mas o mais provável é que o PT busque um nome próprio, acredita Aragão. “É um partido muito hegemônico. Dificilmente aceitaria apoiar um candidato de fora, salvo uma crise”, comentou o especialista.
Renovação
Vidal lembra que a eleição do ano que vem será de “renovação”. “Qualquer figura política associada ao atual governo dificilmente terá chances de se reeleger, seja deputado, governador ou presidente. Isso abre espaço para os partidos que não estão colados a este governo, sobretudo os mais novos”, disse Thiago Vidal. O deputado Major Olímpio (SD-SP) também se diz descrente de vencedores que sejam conhecidos, na atual conjuntura. “Acho muito precoce qualquer discussão sobre 2018. Talvez quem vá disputar ganhe a eleição por W.O. Acho que brancos e nulos terão maioria”, disse. O deputado apostou em novos nomes, como Joaquim Barbosa, Sérgio Moro e o apresentador Luciano Hulk. “Seja quem for, terá uma chance enorme. O pior cenário são os atuais. Seria o ruim contra o pior.”
Nesse núcleo de “renovação”, também entram candidatos de centro-direita, como João Doria, atual prefeito de São Paulo e um dos nomes mais cotados para disputar a presidência pelo PSDB em 2018. O tucano, no entanto, é uma opção muito mais viável caso Lula não seja impedido de ser candidato. Ele é visto como uma figura “anti-Lula”, mas não como um candidato individualmente forte, a não ser que tenha amplo apoio do PMDB e do DEM. “Ele teria chances, porque assim teria uma força partidária boa. Essa é a equação: candidato forte com estrutura forte”, disse Aragão.
A outra opção do PSDB seria o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Ele disputou as eleições presidenciais de 2006 e perdeu, mas continua com nome forte dentro do partido, especialmente entre os integrantes mais antigos. O deputado Major Olímpio destacou que as apostas do PSDB, ou estão envolvidas em escândalos, ou sendo processadas. Doria está limpo, mas vai ter que lutar contra o criador, Alckmin.
Para os eleitores e aliados de Bolsonaro, a vitória é certa se Lula não for preso. Torcem, inclusive, para que o líder do PT só seja condenado após o pleito de 2018. A situação para o militar só se complicaria se outros entrarem na disputa. Para o deputado Capitão Augusto (PR-SP), a polarização ajuda Bolsonaro. “Com Lula, Bolsonaro vai para o segundo turno”, disse. O delegado Éder Mauro (PSB-PA) lembrou que Bolsonaro encostou em Lula na corrida presidencial. “Lula só tem os 30% da esquerda. A única coisa de que precisamos é de outros partidos, que venham a se unir a nós. Bolsonaro ainda não tem coligações”, lembrou.
Performance
Mesmo se Rodrigo Maia, presidente da Câmara, vier a ser presidente este ano, por ser o sucessor legal, caso Michel Temer seja retirado da presidência da República, ainda há dúvidas se ele teria capacidade de ser reeleito. “Ele estando no poder sempre tem o mínimo de chance, porque está com a caneta na mão, mas, na atual conjuntura, acho bem difícil que se reeleja. Ele não é conhecido por ter muitos votos”, disse Vidal. Maia é um deputado com recall eleitoral baixo, teve 53 mil votos em 2014. Além disso, a tendência é que, se chegar à presidência da República, será com o apoio do PSDB e dos outros partidos da atual base. Sem esse pano de fundo, ele não teria chances em eleições diretas.
A melhor opção do DEM, nesse caso, seria apoiar o candidato tucano. O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), diz que ainda é cedo para o partido indicar um nome. “Primeiro temos de regularizar a situação dentro do país; a eleição de 2018 vem depois. Existem mil variáveis que precisam ser levadas em conta. Imaginar que o DEM tem um candidato agora é prematuro”, afirmou. Segundo ele, é “muito provável que o DEM, como vem fazendo, se articule com vários partidos de centro, como forma de encontrar uma candidatura”. Essas conversas já estão em andamento com PSB e PR, por exemplo. “Seguramente, o DEM haverá de montar articulações com partidos de centro para tentar encontrar um nome de consenso”, declarou Agripino.
Já o líder do DEM na Câmara, deputado Efraim Filho (PB), defende publicamente que o partido lance seu próprio candidato. Além de Rodrigo Maia, ele cita, entre as opções, o senador Ronaldo Caiado (GO) e o atual prefeito de Salvador, ACM Neto. “Acredito que Lula não participará das eleições. Mas o DEM, em qualquer cenário, tem potencial. O partido se viabilizou como alternativa. A maior chance é que ele tenha mesmo um candidato, diferentemente dos anos anteriores. Queremos ser cabeça de chapa. Foi uma construção feita durante todos esses anos e agora estamos preparados para isso”, disse Efraim, que define Maia como uma “boa opção, coerente e que cresceu muito no comando da Câmara”.