A Embraer ainda tenta se recuperar e ajeitar a casa depois da confirmação do acordo que prevê que o seu controle passe para as mãos da americana Boeing. Na Bolsa de Valores paulista, as ações da companhia têm apresentado performance ruim desde o dia 5, data em que a negociação entre as duas companhias foi anunciada formalmente. Um dia antes, a empresa brasileira valia R$ 19,770 bilhões.
No primeiro pregão após a confirmação da parceria, o valor da Embraer caiu para R$ 16,945 bilhões e, de lá para cá, não para de recuar. Ontem, seus papéis fecharam em nova baixa, de 4,34%, segundo levantamento feito por Einar Rivero, da consultoria Economatica. Com isso, a avaliação da empesa mingou para R$ 15,830 bilhões. Já a Boeing terminou a quarta-feira valendo US$ 198,4 bilhões.
Amanhã, será a vez de encarar outro problema. Os sindicatos que representam os trabalhadores começaram uma campanha contra a venda da Embraer para a Boeing e vão se encontrar no escritório da companhia em São Paulo, na Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, Vila Olímpia, com o presidente Paulo Cesar de Souza e Silva.
A reunião, que servirá para detalhar itens do acordo, deve ser tensa, já que os sindicatos preveem redução do quadro de pessoal e devem pressionar o executivo para que haja a manutenção de postos de trabalho. Participam do encontro sindicalistas das cidades paulistas de São José dos Campos, Botucatu e Araraquara. Por meio de nota, a Embraer informou que não comentaria o assunto, evitando assim confirmar se conversará com os representantes das entidades.
Governo
Ao mesmo tempo em que tentarão pressionar o presidente da companhia, os sindicatos esperam conseguir agenda com o presidente da República, Michel Temer, na tentativa de convencer o governo, ex-dono da Embraer e detentor do poder de veto no caso da joint-venture firmada com a Boeing, a impedir que o negócio avance. O fato é que essa decisão poderá ficar nas mãos da própria União, já que faltam cinco meses para terminar o atual mandato presidencial e, segundo o que foi divulgado até agora, as duas companhias poderão levar até um ano e meio para finalmente baterem o martelo da negociação.
Para Marcos Barbieri, professor da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp e especialista no setor de atuação da Embraer, ainda há muitos pontos abertos nessa aproximação com a Boeing. Na sua avaliação, a venda do controle para a fabricante americana não é o melhor caminho.
“Não é uma saída para a Embraer, mas sim uma não saída. Ao fazer esse acordo a empresa vai deixar de existir como a conhecemos. A solução para se manter é deixar de existir? Isso é um contrassenso”, afirma. O acadêmico critica o fato de estar à venda, conforme mostra o acordo com a Boeing, justamente a parte mais rentável dos negócios, a de jatos comerciais.
Alianças
No seu entendimento, a Embraer poderia ter buscado alianças estratégicas, a exemplo do que têm feito outras empresas do setor. Esse tipo de acordo, explica, poderia manter o controle da fabricante de aeronaves sem alterações. Barbieri lembra que a companhia está bem posicionada nos mercados em que atua, principalmente no de aeronaves comerciais.
Além disso, tem mantido investimentos em avanços tecnológicos. Em abril passado, lançou o E2, uma nova família de jatos. Na divisão militar, está lançando o modelo KC390. “A Embraer tem elevado grau de competitividade internacional e a expectativa era de que isso se mantivesse ao menos no médio prazo”, destaca.
Dados referentes ao primeiro trimestre de 2018 mostram que a Embraer tem carteira de pedidos firmes de US$ 19,5 bilhões. Agora, deverá haver baixa nas encomendas, com o anúncio que acaba de ser feito pela americana JetBlue, que vai trocar sua frota de jatos fabricados pela Embraer pelos da marca Airbus. A JetBlue tem entre os seus fundadores David Neeleman, criador da Azul e sócio da portuguesa TAP.