Ainda alcancei aqueles fotógrafos que se concentravam na Praça Pedro Américo, em frente ao prédio dos Correios. Quem queria fotos, apenas, para documentos, devia esclarecer ao retratista que, invariavelmente, perguntava:
– Quer com Correio ou sem Correio?
A meia dúzia de retratos três por quatro era fornecida sem o prédio dos Correios ao fundo, às vezes acrescidos de paletó e gravata, quando se exigia essa indumentária. O paletó cabia em qualquer corpo retratado. A minha cédula de identidade, com fotografia originária da Praça, era um espaço em branco, desbotado pelo tempo. Fora assinada por Gato, o então chefe da Instituto de Polícia Técnica, quando eu tinha dezoito anos. Renovei-a aos setenta.
Na cidade pontificavam em seus domicílios fixos, outros artistas da fotografia. O velho Gilberto Sturcker tinha endereço na esquina direita do Paraíba Hotel. Na esquina esquerda, pontificava Neiva. Ariel Farias e depois seu filho Arion reinavam na Miguel Couto e foram ficando mesmo depois do Viaduto Terceirão. Castanha retratava na Praça João Pessoa e Vavá, tinha o seu Petit Foto, na rua da República. Sem esquecer Aguinaldo Estrela, que era encontrado nas proximidades do Cine Rex.
No mundo oficial, Rafael Mororó e Waldomiro Ferreira foram os mais longevos fotógrafos oficiais, um estadual e o outro municipal. Quando eu conheci Mororó ele era mais chefe dos fotógrafos de Palácio do que propriamente um deles. Ainda editou uma obra sobre a cultura da agave, cujo título falava em Ouro Verde, mandada publicar por Pedro Gondim.
Waldomiro, o Cabeção, surpreendeu João Agripino estirado em um banco e dormindo a sono solto no salão do deserto Aeroporto Castro Pinto enquanto aguardava uma aeronave. Foi foto de primeira página mas quase perde o emprego. Cabeção chegou a vereador na capital e deixou Tavinho Santos como herdeiro, bom político mas sem qualquer aptidão para a fotografia.
Acervo maior deixou Walfredo Rodrigues. Antes que se perdesse, Dorgival Terceiro Neto me autorizou sua aquisição e instalamos o Museu Fotográfico Walfredo Rodrigues, em um casarão da Duque de Caxias, restaurado por Balduino Lelis. O prefeito Hermano Almeida levou o museu para a Casa da Pólvora e hoje ninguém sabe dizer por onde anda a história da cidade contada pela lente de WR.
Essas reminiscências vêm a propósito do trabalho de Josélio Carneiro- “Governo da Paraiba, Cenas dos Últimos 80 Anos”- onde ele leva o leitor a percorrer a história da Paraíba através da fotografia e dos arquivos dos repórteres vinculados à área de comunicação do Estado. A pesquisa envolveu os autores dos flagrantes, e as legendas indicam os personagens que naquele momento, davam as ordens na Paraíba e no Brasil.
Ao identificar em uma dessas fotos o locutor Geraldo Cavalcanti, lembrei-me de sugerir também o resgate da história, via oral, pela voz dos locutores da emissora oficial do estado. Lembrei que Geraldo, afônico, foi substituído por um novato a quem recomendou a melhor forma de cumprir a tarefa de cobrir solenidade palaciana. Ao saltar do veículo a primeira dama, o locutor sapecou: “Acaba de chegar S.Excia, o governador, acompanhado de sua primeira mulher”…
Da mesma forma que os fotógrafos e sua produção mostram na pesquisa de Josélio Carneiro, um longo período da nossa história, a Tabajara tem outro tanto para contar, desde os programas de auditório às narrativas de solenidades oficiais, hoje menos frequentes que no passado.
Fotografia: Acervo do museu de Walfredo Rodrigues