O professor de Língua Portuguesa Arnaldo César, de 26 anos, foi vítima de insultos racistas, homofóbicos e xenófobos por alunos de uma unidade da rede de ensino Elite, no bairro Vila Valqueire, no Rio de Janeiro. As informações são do jornal O Globo.
Em vídeos obtidos pelo jornal, o professor, que é mineiro e se mudou para o Rio de Janeiro há menos de um mês, é chamado de “preto, viado, do interior”.
As imagens, que começaram a circular entre alunos da unidade a partir do dia 19 de maio, mostram uma aluna do ensino fundamental falando o que acha da demissão de uma professora de português. “Acho ótimo, porque ela é uma piranha, vadia, safada, que descontava os problemas pessoais nos alunos”, diz.
Na sequência, essa mesma estudante, começa os insultos contra o novo professor contratado Arnaldo César. Segundo a menina, ela “não gostou” da admissão dele por ser “preto e viado”. “Poxa vida, é do interior de Minas”, debocha também. Ainda conforme a estudante, a substituição não foi boa, porque a professora demitida era “ruiva e gostosa”.
Arnaldo César foi surpreendido com os vídeos em seu terceiro dia de trabalho na escola e registrou um boletim de ocorrência na 28ª DP (Campinho) por crime de injúria por preconceito. A Polícia Civil investiga o caso. Ao O Globo, o professor declarou que a ocorrência é um reflexo da estrutura histórica do País, que ele descreve como um “estado escravocrata”.
“Ao colocar verbalmente como demérito o fato de eu ser uma pessoa preta, ela está dizendo, ao mesmo tempo, qual o local que ela esperava que corpos como o meu estivessem. Não em um local de autoridade, de professor, mas talvez de servidão. Então o que me faz desqualificado para o trabalho não é uma formação inadequada, por exemplo. É ser preto, bissexual e mineiro? Qual o lugar que se espera?”, questiona Arnaldo César.
O professor também afirmou que pretende dar seguimento ao processo judicial e cobrou das instituições de ensino a aplicação efetiva da Lei 10.639/03, que estabelece o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana no Brasil.
“Esse movimento da aluna é racista, criminoso. A via legal é importante. Também é importante a possibilidade da construção de currículos escolares que debatam questões raciais, não só no dia 20 de novembro, mas que construam um currículo todo ano, em todas as matérias, com a discussão de raça”, pontuou.
“O sentimento que tenho me coloca num espaço de incômodo, mas não de surpresa. Ser uma pessoa preta e bissexual no Brasil é estar convivendo com violências diariamente. O que me surpreendeu, na verdade, foi o fato de ter vindo tão rápido e a partir de apenas uma aula. Sou um professor qualificado e não sou visto nas minhas qualidades. Sou graduado, sou mestre e mesmo assim não é suficiente para que me vejam preparado para estar atuando onde estou. Mas continuarei atuando”, acrescentou o professor.
Procurado pelo jornal, o Elite Rede de Ensino afirmou, por meio de nota, que repudia qualquer atitude discriminatória e que postura como essas “ferem os valores” da escola e “não podem ser aceitas em hipótese alguma”. Segundo o Elite, a estudante que proferiu os insultos sofreu “transferência compulsória” para outra instituição.
“Ao tomar ciência da postura da estudante, a direção da escola prontamente tomou todas as medidas cabíveis, convocando os pais, suspendendo os alunos envolvidos e acionando o Conselho Tutelar”, informou.
“O caso foi relatado no canal de Compliance da Rede e a Delegacia local também foi acionada pela direção da unidade e um boletim de ocorrência foi realizado. Seguiremos à disposição das autoridades para a devida apuração dos fatos e para o devido cumprimento da lei”, disse.
O Elite ainda informou que está prestando todo apoio ao professor e realizando ações de conscientização junto à turma e ao setor psicossocial. “Reforçamos nosso compromisso em coibir qualquer tipo de prática que contradiga nossos princípios e valores, inclusive mantendo aberto o canal confidencial para a denúncia e apuração de casos sensíveis: contatoseguro.com.br/elite“, informou.
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