Dia Internacional da Mulher

Luiza Brunet: “Lutaremos até o dia que for preciso”

Luiza Brunet, de 59 anos, acredita que é ótimo existir o Dia Internacional da Mulher, entretanto, o gosto da celebração deste ano será amargo. O motivo são as graves violências sofridas por mulheres, incluindo o episódio de Arthur do Val, na última semana. 

Em entrevista exclusiva ao Terra, ela contou que tem participado de congressos, tomado a frente em palestras e viajado o mundo inteiro para falar sobre pautas feministas. Segundo Luiza Brunet, ela tem se qualificado para isso a partir de suas próprias dores.

“Eu tenho me aprofundado nessa plataforma de violência contra mulheres, estou participando de eventos, analisando projetos, estou me qualificando com as minhas próprias dores e quando digo dores, é da humihação, do assédio sexual, da violência doméstica, da violência vivida na idade madura. Tudo isso chancela uma voz muito mais poderosa”, aponta Luiza Brunet. 

Inspiração para outras mulheres, a modelo e ativista acredita que sua valentia diante das dificuldades da vida é o que lhe consolida neste local de exemplo. 

“Quando você escolhe ser protagonista na vida, você tem de fazer bem feito. Eu considero o papel que tenho feito como importante porque eu enfrento o medo… e eu não tenho receio disso. Isso é uma barreira que as mulheres precisam romper das violências que elas sofrem”, analisa.

Luiza: um fenômeno da natureza

Luiza Brunet, modelo
Luiza Brunet, modeloFoto: Reprodução Instagram

Questionada sobre a origem de todo este ímpeto, ela aponta uma série de fatores que culminaram na criação orgânica de uma mulher forte, como a infância humilde, a veia empreendedora e a mãe batalhadora como exemplo de resiliência. 

“Com 16 eu já tinha presenciado violência doméstica, passei por violência sexual na casa de família que trabalhei, além de assédio moral e sexual dentro nas lojas que passei”, relata Luiza, referindo-se à década de 70.

Em 1979, ela se casou com Gumercindo Brunet, como era menor de idade precisou ser emancipada. Em contrapartida, a carreira de modelo começou a deslanchar. Pensando que seria tranquilo modelar sendo uma mulher comprometida, ela revela o oposto.

“Quando eu virei modelo, a mulher era muito objetificada. Se você posasse nua, era um recado de que estava disponível para sexo para quem quisesse. Eu era casada e eu enfrentava os homens. Muitas vezes eu deixei o trabalho no meio porque eu me sentia violada”, lembra Luiza.

Segundo a modelo, o ímpeto da coragem cresceu ainda mais quando foi agredida pelo ex-marido Lírio Parisotto, já numa idade madura.

“Aquilo, para mim, foi uma espécie de explosão atômica, eu disse: ‘Não, chega!’. Eu acho bonito falar que somos fênix, mas precisamos ter coragem de fazer ela sair. A gente precisa se posicionar na vida, não dá para ficar em cima do muro sempre”, comenta. 

Realidade Brasileira

Luiza Brunet, ativista
Luiza Brunet, ativistaFoto: Reprodução Instagram

No Brasil, segundo dados da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), as denúncias de violência doméstica cresceram 22% em pelo menos 12 estados. Para Luiza, isso é reflexo da falta de fiscalização e execução das leis.

“As leis estão se ampliando, elas estão ficando mais rigorosas, mas precisam ser levadas ao pé da letra. Uma mulher que vai prestar queixa, geralmente, dá de cara com um homem que ameniza toda a situação, isso é violência institucional. Precisamos mudar, essa realidade me angustia”, confessa a modelo.

Com a agenda lotada de eventos para falar sobre o enfrentamento da violência contra mulher, Luiza Brunet não crê que o Dia Internacional da Mulher deva deixar de existir, mesmo com a melhora ou piora dos números. Muito pelo contrário, num cenário utópico de inexistância de violência, para ela, a data deve ser celebrada como referência do que não ser feito.

“Lutaremos até o dia que for necessário, que for preciso, temos boas leis, políticas boas, mas isso não impede que a gente seja violada, estamos num processo embrionário e para fazer esse embrião nascer precisa de educação e muita luta. As Lembranças ruins ou boas são sempre um legado, uma referência para ter parâmetros. Espero que no futuro os dados de feminicídio e de assédio de hoje causem indignação”, encerra Luiza Brunet, que tem data marcada para embarcar para Nova York e Dubai a fim de empoderar mulheres e construir um futuro de mais respeito a todos.

Redacao com terra.com.br

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