Para quem nunca foi levado a extrair uma unha encravada, ser hóspede de uma unidade de terapia intensiva é uma aventura inusitada. Colocado em leito de posição privilegiada, podia avistar outros à minha frente e o movimento frenético de médicos, enfermeiros, assistentes sociais e outros auxiliares que se revezam a cada vinte e quatro horas.
Os intensivistas cuidam de homens e mulheres, adultos ou crianças, que necessitam de melhores cuidados, quase sempre pós operatórios ou preventivamente, visando estabilizar um paciente com a saúde em risco.
O conceito de terapia intensiva vem do século dezenove, quando em pela guerra da Crimeia, por volta do ano de 1854, alguém teve a ideia de separar pacientes graves de não graves e a partir de então estabeleceu uma vigilância continua, de dia e de noite sobre seu estado de saúde. Atribuiu-se a inciativa a Florence Nightingale, que ficou conhecida como a Dama da Lâmpada, pois conduzia uma lamparina durante a noite procurando os enfermos mais graves para separa-los dos menos graves. Mas a primeira UTI com esse nome, veio surgir em Boston, nos EE.UU pelo ano de 1927, através de um neuro- cirurgião chamado Walter Dandy, conforme me revela a Wikipédia. No Brasil, o honraria de encarar o tratamento intensivo foi conferido, historicamente, à Ana Nery, tida como Heroína da Pátria e pioneira da enfermagem no Brasil, principalmente em função de sua atuação, ao lado do marido e filhos na guerra do Paraguai.
Mas deixemos o bravos brasileiros que perderam avida nos pântanos paraguaios e nas batalhas navais e voltemos à UTI onde estive internado por alguns dias. Um ambiente de ansiedade. O isolamento provoca a angustia. Só há o desejo de rever as pessoas que amamos e que, no outro lado de uma parede, fazem fila para um abraço carinhoso, às vezes, não correspondido, por razões obvias. O velhinho de cabelos branco corre célere até o leito onde sua companheira dorme. Trouxeram-me lágrimas o gesto de carinho. Merecia uma foto. Mas proíbem celular naquele ambiente. O filho, mais ágil ainda que o marido aflito, procura um rosto, e faz carinho na face materna que parece não responder aos afagos. Lembrei minha mãe que padeceu em um daqueles tálamos. Vendo aquele filho acarinhar a mãe enferma, quanto me arrependi de, em nome da minha covardia, ter deixado de ir abraça-la. Preferia guardar a lembrança da sua imagem em vida. Agora tenho certeza que ela teria ficado muito feliz em me ver, mesmo que fosse pela última vez.
Foi uma boa invenção essa tal de UTI. O paciente, quando está em condições, pode avaliar os serviços que lhe estão prestando. Melhor ainda quando a luta de todos é coroada de êxito e o interno sai dali, recuperado, saudável. Numa UTI se respira vida. Acho que não incomodei muito. Bastava um sinal, e alguém já sabia que eu pedia o famoso bico de papagaio. Usei e abusei do bicho. Em hora nenhuma, porém, precisei avisar para todos, como o senador, o que desejava fazer…